domingo, 26 de dezembro de 2010

IX ELAOPA - 22 a 24 de Janeiro em Jarinú-SP

Retirado de http://www.ainfos.ca/pt/ainfos04764.html

O ELAOPA surge em 2003, como um espaço alternativo ao Fórum Social Mundial (FSM), onde não participam partidos políticos, ONG's e nem representantes de governos; entidades estas, que diferem de nossa realidade e das intenções de nossas organizações. O ELAOPA pretende então, juntar, encontrar e articular a luta de organizações populares da América Latina, colocando-as como atoras à partir das suas necessidades, realidades e anseios.

Já participaram do ELAOPA diversos grupos/organizações: agrupações sindicais e sindicatos, coletivos culturais, muralistas, grupos de teatro, movimento de piqueteiros, desempregados/as, movimentos de luta pela terra, coletivos feministas, centros sociais, ateneus, organizações camponesas, ecologistas, coletivos em defesa dos direitos humanos, entidades estudantis.

Um dos principais eixos que sempre estão em nossos encontros tem sido a construção do poder popular, por uma perspectiva autônoma e de base, ou seja, desde baixo, capaz de resistir à opressão capitalista e criar alternativas de luta conjuntas, rompendo barreiras e fronteiras, a partir da solidariedade entre os/as companheiros/as.

O IX ELAOPA será realizado no Centro de Formação Campo Cidade do MST/Regional SP na cidade de Jarinú, Grande São Paulo, acesso pelo trem em Campo Limpo Paulista.

PARTICIPE e faça sua inscrição pelo site !!!!
http://www.elaopa.org

As inscrições poderão ser realizadas até 10/01/2011. Para cobrir os gastos de alimentação e infraestrutura do encontro estamos pedindo a contribuição de R$ 25,00
depositáveis em banco!!!! Importante citar também que as/os companheiras/os que estiverem fora do Brasil, poderão fazer sua contribuição na chegada.

Dúvidas pelo email:
ixelaopa@riseup.net

Solidariedad siempre!!!!!!

Comissão de Comunicação do IX ELAOPA

El Surco 22 - Dezembro 2010

A mais recente edição do periódico El Surco está disponível - http://srhostil.org/elsurco/elsurco22.pdf.
Editorial - ¿Reformar al Estado, humanizar el capital? No gracias…
Artigos - ¿Enseñanza pública y popular? ¡Auto educación carajo!; Todo lo que debes saber sobre el servicio militar obligatorio; Encrucijadas e ideas anarquistas: Mucho ruido y pocas nueces; dentre outros.

Vale a pena refletir o tema do editorial que trata de greves recentes no Chile (metrô e estudantes e professores de História). O que se tem alcançado com essas greves? Reformar o Estado e humanizar o capital?, como diz o título. O texto me lembrou a polêmica travada pela imprensa entre anarcossindicalistas e anarquistas durante a Greve Geral de 1917 em São Paulo.

Boa leitura!

sábado, 25 de dezembro de 2010

10 anos de CMI! e a alerta para a censura...

Retirado de http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/12/482910.shtml

10 anos! Uau! Um viva para todos/as nós! Como sempre, na data do nosso aniversário publicamos um editorial. Gostaríamos de falar sobre o que vem acontecendo dentro da rede Centro de Mídia Independente Brasil. Contar sobre o nosso Encontro Nacional, que aconteceu em Novembro com mais de 50 voluntários/as de todo o Brasil; literalmente falando, tínhamos gente de todas as regiões do país. Contar sobre o nosso projeto de um site novo e outras plataformas em que estamos trabalhando; onde por exemplo, queremos expandir a participação da comunidade que usa o CMI, criando formas de colaboração com a manutenção do site, etc. Falar ainda que o CMI recebe entre de 2 a 4 milhões de visitas por mês.

Temos muitas outras coisas boas para falar sobre o CMI neste editorial, mas resolvemos dedicá-lo a uma denúncia. O Centro de Mídia Independente vem sofrendo CENSURA. O caso é muito grave e importante pelos precedentes que abre, e precisa ser mais bem conhecido por todos, para gerar toda forma de apoio possível.

Resumidamente, provedoras de Internet estão bloqueando o acesso de seus clientes ao domínio midiaindependente.org. Mais especificamente: a Claro argumenta que uma sentença judicial está forçando-a a bloquear o acesso de seus usuários ao CMI. , Suspeitamos que seja esta a mesma causa do bloqueio feito pela Net e pela Embratel ao CMI. Houve relato de bloqueio feito pela TIM, mas não tivemos mais informações sobre esta provedora.

Vamos expor todas as informações de que dispomos, então pedimos que leiam com atenção a descrição dos fatos sobre a CENSURA que o CMI vem sofrendo desde Abril deste ano. Organizamos tudo na forma de "perguntas e respostas" para facilitar. Clique no link abaixo, informe-se, divulgue e apóie nossa luta contra a censura!

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/12/482910.shtml

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O ceguinho podólatra Glauco Mattoso, um livre-pensador


Já se vão alguns anos desde a primeira vez que li algo escrito por Glauco Mattoso (1951). Suas colunas na revista (posso dizer petista?) Caros Amigos ou seu livro iniciático à poesia marginal da época da Ditadura (O que é poesia marginal), ambos foram lidos, por mim, há pelo menos cinco anos. Faz mais tempo ainda desde a última vez que o vi na TV, no extinto programa Musikaos da claudicante TV Cultura.

Li recentemente muitos sonetos do Glauco Mattoso (pseudônimo que alude ao mesmo tempo à doença congênita glaucoma e ao poeta barroco Gregório de Matos) em seu sítio pessoal, nas páginas que reune parte da obra poética, e em sua coluna no Portal Cronópios.

Além da tara por pés e solas, e sua postura de eterno fudido (em todos os sentidos), ele também se posiciona com relação à política e aos políticos. Dentre outras coisas, é do que tratam os sonetos abaixo:

#17 Sádico [1999]

Legal é ver político morrendo
de câncer, quer na próstata ou no reto,
e, p'ra que meu prazer seja completo,
tenha um tumor na língua como adendo.

Se for ministro, então, não me arrependo
de ser-lhe muito mais que um desafeto,
rogar-lhe morte igual à que um inseto
na mão da molecada vai sofrendo.

Mas o melhor de tudo é o presidente
ser desmoralizado na risada
por quem faz poesia como a gente.

Ele nos fode a cada canetada,
mas eu, usando só o poder da mente,
espeto-lhe o loló com minha espada.


#18 MASOQUISTA [1999]

Político só quer nos ver morrendo
na merda, ao deus-dará, sem voz, sem teto.
Divertem-se inventando outro projeto
de imposto que lhes renda um dividendo.

São tão filhos da puta que só vendo,
capazes de criar até decreto
que obrigue o pobre, o cego, o analfabeto
a dar mais do que vinha recebendo.

Se a coisa continua nesse pé,
acabo transformado no engraxate
dum senador qualquer, dum zé mané.

Vou ser levado, a menos que me mate,
à torpe obrigação de amar chulé,
lamber feito cachorro que não late.


#25 POLÍTICO [1999]

A esquerda quer mudança no regime:
trocar todas as moscas sobre o troço;
mais gente repartindo o mesmo almoço,
p'ra ver se a humanidade se redime.

A situação não quer mexer no time:
o jogo da direita é o mesmo osso,
o mesmo cão, e nada de alvoroço,
mantendo o status quo que nos oprime.

Um cego como eu, politizado,
consciente de não ser tão incapaz
que não possa escolher qual é meu lado;

P'ra mim, desde que seja dum rapaz
o pé pelo qual quero ser pisado,
direito como esquerdo, tanto faz.



O gosto musical do poeta chama a atenção; rockabilly, punk rock e outras vertentes do rock, além do ska fazem parte de suas preferências; as quais compartilho. Há poemas que mencionam (julgam) bandas como Sex Pistols, The Clash, Buzzcocks, Dead Kennedys, Exploited, Ramones, Stiff Little Fingers, Sham 69, Stray Cats, The Macc Lads, The Specials, Toy Dolls e outras tantas. Em vez de ficar no lugar comum da classe letrada, a MPB, o bardo enaltece o rock'n'roll sem frescura.

A preferência musical é apenas uma das facetas dessacralizadoras de Glauco, que já foi chamado de marginal, experimental e maldito; rótulos que prontamente assumiu.


#43 VANGUARDISTA [1999]

Vanguarda é classicismo, e a prova disso
está nos manifestos: em que pese
o mau comportamento, viram tese,
tratados como o texto mais castiço.

Não nego que elas prestam bom serviço,
mostrando algo de novo que se preze.
O mal é quando espalham catequese,
querendo impor que o resto está cediço.

Aqui nem há razão p'ra que me queixe:
Quer seja ou não vanguarda ou velha guarda,
não deixo de vender meu mixo peixe.

Não viso academia, chá nem farda;
só peço a cada membro que me deixe
lamber seu pé com minha língua barda...


#44 MALDITO [1999]

O veio subterrâneo e fescenino
do qual Zé Paulo Paes foi bandeirante
tem repertório altíssimo e abundante
que vai de Marcial até Aretino.

Na língua portuguesa já declino
três nomes do listão mais importante:
Bocage, Lagartixa e o infamante
Gregório, véi de guerra, esse menino!

Nem penso em me incluir nessa caterva,
até porque meu vício é bem menor.
Quem for mais perspicaz na certa observa:

Aquilo que o Mattoso faz melhor
é só o que a sorte cega lhe reserva:
tirar leite de pé, lamber suor.


#45 MARGINAL [1999]

Assim como o menor abandonado
converte-se bem cedo no infrator,
também na poesia há muito autor
rebelde só porque ficou de lado.

Os jovens querem dar o seu recado
do modo mais avesso e transgressor,
até chegar num ponto em que o louvor
consagra todo o coro amotinado.

O fato é que o legítimo indigente
é quem fica isolado na conversa
enquanto as outras partes fazem frente.

Me sinto assim. A turma já dispersa
ao ver que meu assunto é o pé, somente.
O tema é marginal, e vice-versa.


Notem que no soneto “Maldito”, o sujeito-lírico se insere numa tradição que conta com Aretino, Marcial, Gregório de Matos, Bocage e Lagartixa (Laurindo Rabelo). Essa tradição seria o veio subterrâneo da literatura, a literatura fescenina.

As informações abaixo, sobre o poeta Mattoso e sua arte, foram retiradas do já mencionado sítio pessoal.

Glauco Mattoso é poeta, ficcionista, ensaísta e articulista em diversas mídias. Pseudônimo de Pedro José Ferreira da Silva (paulistano de 1951), o nome artístico trocadilha com "glaucomatoso" (portador de glaucoma, doença congênita que lhe acarretou perda progressiva da visão, até a cegueira total em 1995), além de aludir a Gregório de Matos, de quem é herdeiro na sátira política e na crítica de costumes.

Após cursar biblioteconomia (na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, bacharelando-se em 1972) e letras vernáculas (na USP, sem concluir), ainda nos anos 1970 participou, entre os chamados "poetas marginais", da resistência cultural à ditadura militar, época em que, residindo temporariamente no Rio, editou o fanzine poético-panfletário "Jornal Dobrabil" (trocadilho com o "Jornal do Brasil" e com o formato dobrável do folheto satírico) e começou a colaborar em diversos órgãos da imprensa alternativa, como "Lampião" (tablóide gay) e "Pasquim" (tablóide humorístico), além de periódicos literários como o "Suplemento da Tribuna" e as revistas "Escrita", "Inéditos" e "Ficção".

Durante a década de 1980 e o início dos anos 1990 continuou militando no periodismo contracultural, desde a HQ (gibis "Chiclete com Banana", "Tralha", "Mil Perigos" e outros, mas não deve ser confundido com o cartunista Glauco Villas Boas) até a música (revistas "Somtrês", "Top Rock"), além de colaborar na grande imprensa (crítica literária no "Jornal da Tarde", ensaios na "Status" e na "Around"), e publicou vários volumes de poesia e prosa.

Na década de 1990, com a perda da visão, abandonou a criação de cunho gráfico (poesia concreta, quadrinhos) para dedicar-se à letra de música e à produção fonográfica, associado ao selo independente Rotten Records.

Com o advento da internet e da computação sonora, voltou, na virada do século, a produzir poesia escrita e textos virtuais, seja em livros, seja em seu sítio pessoal ou em diversas revistas eletrônicas ("A Arte da Palavra", "Blocos On Line", "Fraude", "Velotrol", "Capitu", "Cronópios", "GLX") e impressas ("Caros Amigos", "Outracoisa", "G Magazine", "Discutindo Literatura"). Jamais deixou, entretanto, de explorar temas polêmicos, transgressivos ou politicamente incorretos (violência, repugnância, humilhação, discriminação) que lhe alimentam a reputação de "poeta maldito" e lhe inscrevem o nome na linhagem dos autores fesceninos e submundanos, como Bocage, Aretino, Apollinaire, Sade ou Genet.

Em colaboração com o professor Jorge Schwartz (da USP) traduziu a obra inaugural de Jorge Luis Borges, trabalho que lhes valeu um prêmio Jabuti em 1999. Nesse terreno bilíngüe GM tem-se dedicado a outros autores latino-americanos, como Salvador Novo e Severo Sarduy, e tem sido traduzido por colegas argentinos, mexicanos e chilenos.

Em vídeo, GM foi entrevistado ou convidado, entre outros, dos programas "Metrópolis", "Vitrine", "Fanzine", "Provocações", "Entrelinhas", "Letra Livre", "Almanaque Educação", "Manos e Minas", "Matéria Pública" e "Musikaos" (TV Cultura), "Sem Frescura" e "Palavrão" (Canal Brasil), "Circular" e "Saca-Rolha" (Rede 21), "Todo seu" (TV Gazeta), "Saia Justa" (Rede Mulher), "Literatura" (redes SENAC e Educativa) e "Jogo de Idéias" (Itaú Cultural/TV-PUC).

Segundo Pedro Ulysses Campos, "A poesia de Glauco Mattoso pode ser dividida, cronologica e formalmente, em duas fases distintas: a primeira seria chamada de FASE VISUAL, enquanto o poeta praticava um experimentalismo paródico de diversas tendências contemporâneas, desde o modernismo até o underground, passando, principalmente, pelo concretismo, o que privilegiava o aspecto gráfico do poema; a segunda fase seria chamada de FASE CEGA, quando o autor, já privado da visão, abandona os processos artesanais, tais como o concretismo dactilográfico, e passa a compor sonetos e glosas, onde o rigor da métrica, da rima e do ritmo funciona como alicerce mnemônico para uma releitura dos velhos temas mattosianos (a fealdade, a sujidade, a maldade, o vício, o trauma, o estigma), reaproveitando técnicas barrocas e concretistas (paronomásia, aliteração, eufonia e cacofonia dos ecos verbais) de mistura com o calão e o coloquialismo que sempre caracterizaram o estilo híbrido do autor. A fase visual vai da década de 1970 até o final dos anos 1980; a fase cega abre-se em 1999, com a publicação dos primeiros livros de sonetos."


Para encerrar, cabe aqui informar que a partir de Janeiro de 2009, o autor tem escrito conforme as normas ortográficas de dois séculos atrás. Para ler seus textos escritos desta forma, basta acessar sua coluna no Portal Cronópios e seus últimos sonetos.

Fiquem com mais dois sonetos do ceguinho.

#190 REDUNDANTE [1999]

Pediram-me um escândalo, e é p'ra já.
Malversação de fundos? Nada disso.
O seio da modelo, que é postiço,
também já não excita a língua má.

A droga nas escolas? Ninguém dá
a mínima importância ao desserviço.
Seqüestro de empresário? Algum sumiço?
Remédio adulterado? Quá! Quá! Quá!

A fraude eleitoral virou rotina.
As contas no exterior não causam pasmo.
Ninguém estranha o cheiro da latrina.

Até Matusalém já tem orgasmo!
Só resta a comentar, em cada esquina,
que o cego é chupa-rola... Um pleonasmo!


#2349 PARA UM IMAGINÁRIO MORTUÁRIO (III) [16/3/2008]

E do Municipal? Muito se narra,
mas esta me contaram que é verdade.
O prédio, certa noite, um punk invade,
disposto a ver fantasma até na marra!

Silêncio. Tudo escuro. A quem por farra
entrara no teatro, persuade
a mágica atmosfera de vaidade
à qual o artista, em vida, em vão se agarra.

O punk, então, no palco vê que o Mário,
o Oswaldo e os outros foram o que, agora,
quer ele ser: rebelde e libertário...

Mas cada modernista que ali chora
a efêmera inscrição no calendário
lamenta não ser novo como outrora...

NOTA: Refere-se, o eu-lírico, à Mário de Andrade e Oswald de Andrade, nomes centrais do Movimento Modernista, eternizado na Semana de 1922.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O Proudhoniano Eça de Queirós - Francisco Trindade

O texto que coloco neste espaço foi retirado do blogue ANOVIS ANOPHELIS, de Francisco Trindade. Trata, o texto, do influxo das considerações estéticas de Proudhon na produção queirosiana. Retomo, desta forma, a questão literária, que tanto me agrada.
Silva M. O.

Publicado originalmente em: http://franciscotrindade.blogspot.com/2010/12/o-negro-e-o-vermelho_04.html


"Uma sociedade sobre estas falsas bases, não está na verdade: atacá-las é um dever."
Eça de Queirós, 1879.

O realismo aparece na mente de Eça de Queirós associado às ideias estéticas de Proudhon. Para ele, realismo é fundamentalmente Proudhon com uns pós de Taine. Nunca ninguém se lembrará de aproximar as ideias estéticas de Proudhon do realismo literário. Tão pouco se tinha visto ainda aproximar as teorias do meio, de Taine das teorias sociais do autor do Do Princípio de Arte.
Mas a conferência "A Nova Literatura " que Eça de Queirós apresenta no casino Lisbonense em 1871 subintitulada O Realismo como Nova Expressão da Arte não é somente uma exposição das ideias destes dois pensadores franceses. Antes de mais nada, foi uma crítica ao estado decadente das letras nacionais, embora sem descer a uma concretização positiva. Essa concretização fizera-a ele em As Farpas no seu estado social de Portugal em 1871, publicado precisamente dias antes da conferência.
Para Proudhon, o realismo ensinava simultaneamente ao artista a " exprimer les aspirations de l' époque actuelle " e a ter em conta que a arte é "une representation idéaliste de la nature et de nous-mêmes, en vue du perfectionnement physique et moral de notre espéce " (Do Princípio de Arte e do seu Destino Social) no que se opunha a Taine , que tinha por secundário o ideal moral. Para este, todos os temas eram dignos de ser pintados; para Proudhon, não . Associar, pois as doutrinas estéticas de Taine às de Proudhon era uma simbiose audaciosa que Eça de Queirós não receou levar a cabo .
Nas conclusões da sua conferência há afirmações expressas: Em primeiro lugar o Realismo deve ser perfeitamente do seu tempo, tomar a sua matéria na vida contemporânea. Em segundo lugar, o Realismo deve proceder pela sua experiência, pela fisiologia, ciência dos temperamentos e dos carácteres.
Mas principiemos pelo princípio. Proudhon, no Da Justiça na Revolução e na Igreja apresenta a Revolução como um vasto sistema filosófico em que se enquadra a sociologia, a política, a economia, a moral - e a própria literatura . No terceiro tomo dessa obra pode ver-se inclusivamente um estudo, o nono, em que o problema literário é focado ( cap. VII e VIII). Eça, literato, deve ter começado por aí. Nas Notas Contemporâneas pode ler-se o seguinte: " Sob a influência de Antero logo dois de nós, que andavamos a compôr uma ópera - bufa, contendo um novo sistema do Universo, abandonamos essa obra de escandoloso delírio - e começamos à noite a estudar Proudhon nos tomos da "Justiça na Revolução e na Igreja "...
Na verdade a sua conferência acusa pontos de contacto com essa obra. Há afirmações ácerca da revolução que são de lá . Aquela visão da literatura revolucionária, de Rabelais a Beaumarchais, é também de lá. Entretanto, Proudhon, que prometia aí um vasto estudo à parte sobre a literatura - vem a publicar, ou melhor, publicam-lhe os discípulos em obra póstuma - o D. Eça, encaminhado por aquela leitura, aconselhada por Antero (acerca da influência de Proudhon na obra de Antero de Quental ,ver o nosso artigo na Batalha, nº134,Out/Dez 91, pp.10-11, " O Socialismo Proudhoniano de Antero de Quental " ) procura agora o novo livro. E a conferência revela vastos pontos de contacto com ele .Este livro tinha saído em 1865 e era o primeiro duma série de póstumos.
Assentando todo em reflexões que a obra realista de Courbet lhe sugerira, Proudhon quisera em Do Princípio de Arte sujeitar a arte ao pensamento dum destino social . A arte, dali para o futuro deveria ser condição de melhoramento das sociedades, e o realismo a sua expressão . Em três capítulos iniciais assentara nisto. A arte que fugisse desse ideal era falsa. Querendo demonstrar que, afinal, o papel da arte, sempre tinha sido esse - desde o IV capítulo até ao X, fez um estudo interpretativo da evolução histórica da arte. Os oito capítulos seguintes são de análise à obra realista de Coubet. Nos restantes capítulos, do XIX ao XXV, dispendem-se argumentos e considerações que hão-de levar ao estabelecimento dum critério de criação artística em vista do seu destino social.
O Proudhonismo - incluindo o de Eça de Queirós - assenta em três noções fundamentais : a Consciência, a Justiça e a Igualdade. A Consciência e a Justiça são duas faces da mesma coisa. A Consciência é o sentimento que o sentimento que o homem tem de si, dos seus direitos e dos seus deveres . Mas esta noção Kantiana não basta a Proudhon, sociólogo: só lhe interessa o homem em grupo, e a equação de homem para homem. Ora cada homem, supõe Proudhon, sente como a sua própria, a dignidade e os direitos do seu semelhante; é a consciência objectivando-se - a que ele dá o nome de Justiça . A Justiça impõe o respeito recíproco e conduz inevitavelmente à igualdade, porque nos leva a exigir aos outros o mesmo que os outros exigem de nós e porque nos leva a respeitar os outros tanto como a nós mesmos, uma vez que a Consciência se tem de supor idêntica em cada um.
Por outro lado, desde que a Consciência é uma noção imediata, consubstancial à própria natureza humana, e a Justiça é a sua face social, tão inevitável como ela, é claro que a Igualdade se realizará fatalmente; e a Evolução não é que a sua realização progressiva. Por isso escrevia Oliveira Martins que a teoria do socialismo é a evolução. Nada impedirá que ela se ela se realize; mas essa realização será gradual e evolutiva. Por isso Proudhon não acredita em subversões perturbadoras, que, além do mais são uma violação do princípio da Justiça: "Revolução" é para ele sinónimo de Evolução no sentido de Igualdade; e propende a só considerar como sã uma sociedade desde que nela exista a par de uma inércia conservadora um impulso renovador evolutivo.
Em nome deste princípio da Justiça e desta lei da Igualdade critica Proudhon a organização social-económica da sua época, e nomeadamente a propriedade deveria ser tal que todos participassem nela, porque todos, em virtude da lei da Igualdade, têm o mesmo direito a ela. Isto não significa a supressão pura e simples da propriedade ou a sua colectivação, no pensar de Proudhon, mas antes a criação de um novo tipo de propriedade, que ele denomina "posséssion" que é no fundo, o usufruto do trabalho. À mesma crítica se presta a grande indústria, cujos meios de produção, segundo Proudhon, deviam estar nas mãos de companhias de trabalhadores.
Proudhon nega-se, portanto, a toda a organização estatista e à colectivização; e o seu ideal seria, concretamente, quanto à terra, a distribuição duma vasta colectividade de pequenos lavradores; quanto à produção industrial a transferência do capital e dos lucros para os próprios operários organizados. È a ideia base do cooperativismo.
Toda esta teoria a encontramos ao longo da obra de Eça de Queirós como membros dispersos, que, reunidos, permitem perceber o conjunto da construção.
A par dos objectivos da Revolução considera Eça o próprio processo da Revolução. E aqui a marca deixada por Proudhon aparece muito profunda - talvez por encontrar um eco em alguma coisa de pessoal e íntimo no escritor. Eça aceitou, compreendeu e glosou até ao fim da vida as duas noções fundamentais de Proudhon a este respeito: que a Revolução é uma evolução contínua e fatal - de modo algum um crise brusca; e que a Revolução se operará não já por uma transformação política mas por uma transformação puramente económica e técnica.

Francisco Trindade

sábado, 4 de dezembro de 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

El Libertario 61 - Dezembro/Janeiro 2011

Já está disponível o periódico venezuelano El Libertario referentes aos meses de Dezembro de 2010 e Janeiro de 2011. Ainda não li completamente, mas ainda assim, conhecendo a qualidade de suas páginas, recomendo a leitura.
Há, dentre os artigos, um pequeno e belo discurso do escritor espanhol Federico García Lorca a respeito da necessidade da cultura para o homem. Outro dia escrevo mais sobre García Lorca, um dos maiores nomes da poesia espanhola do século passado.

Para ler, baixar, clique aqui!

domingo, 21 de novembro de 2010

I Mostra de Cinema Galego em São Paulo

FFLCH-USP / Sociedade Hispano Brasileira de São Paulo
Entrada Franca


LINGUAS CRUZADAS (2008), de María Yáñez e Mónica Ares / 70 min.
Documental baseado en entrevistas a mozos e mozas de diferentes cidades, vilas e aldeas galegas que explican a súas razóns para falar en galego, en español ou nas dúas linguas. Un documento actual sobre a situación da lingua en Galicia, o bilingüísmo e a diglosia. / Versión orixinal en galego.
24 novembro - 14:00 h. [FFLCH / SALA 165]

A LINGUA DAS BOLBORETAS (1999), de José Luís Cuerda / 95 min. (Capa ao lado)
Baseada en tres relatos do libro “Que me queres, amor?”, do premiado escritor coruñés Manuel Rivas, a película narra o ambiente da sociedade galega nos meses previos ao comezo da Guerra Civil a través da vida dun mestre de escola e os seus alumnos. / Versión orixinal en español con subtítulos en portugués.
26 novembro - 20:30 h. [Sociedade Hispano-Brasileira (Rúa Ouvidor Portugal 541 - Vila Monumento)]

PRADOLONGO (2008), de Ignacio Villar / 110 min.
Os conflictos e as conviccións de tres mozos do interior da provincia galega de Ourense que descobren o amor, a amizade e os ideais e que definen as súas vidas no contexto dun país que se debate entre a industrialización, a tradición e o respecto á natureza. Versión orixinal en galego con subtítulos en portugués.
1 decembro - 20:30 h. [Sociedade Hispano-Brasileira]

SEMPRE XONXA (1989), de Chano Piñeiro / 114 min.
A vida e os traballos nas aldeas galegas na década de 1940, a experiencia traumática ou exitosa da emigración a América, as lendas e a maxia que se confunden coa realidade a través da historia dunha muller, Xonxa, e a súa
experiencia vital. O primeiro grande éxito do cinema galego. / Versión orixinal en galego con subtítulos en portugués.
30 novembro - 14:00 h. [FFLCH / SALA 264]
4 decembro - 17:00 h. [Sociedade Hispano- Brasileira]

Informações e contatos
www.sociedadehispano.com.br
www.cegal.usp@gmail.com
facebook: cegal usp

terça-feira, 16 de novembro de 2010

El Surco 21 - Novembro 2010

A 21ª edição do periódico chileno El Surco já está disponível no sítio temporário do jornal.
Para baixar, clique aqui!

A edição traz reflexões sobre o caso dos mineiros chilenos, cidadania, o "caso bombas" (operação policial que prendeu diversos anarquistas "suspeitos" no Chile), organização e outros, além de uma entrevista com Rafael Uzcátegui.

Editorial
La tierra se traga hombres, el sistema vomita injusticia
Artículos
A las barricadas virtuales (Documento) • El ciudadano: actor polimorfo y plurivalente • Trampas, movilizaciones, solidaridad y acción: Actualización de lo sucedido en el “Caso Bombas” • Entrevista al compañero Rafael Uzcátegui • ¿Cómo pensamos la organización anarquista? • Revistas electrónicas y el fetichismo de lo alternativo • La escuela como centro de adormecimiento brutal y silencioso • Anarquistas de mi tiempo • Reseña: “Anarquistas: Presencia libertaria en Chile” • Breves: Collahuasi y Fasa: comienza una huelga y termina otra • Transaraucaria, continua la huelga • Sigue movilización en el mas •Y Más...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Agenda de eventos - Novembro 2010

Repassando os eventos noticiados neste blog para o mês de novembro:

02/11 terça-feira - 16h30
Rediscutindo o anarquismo e o sindicalismo
Palestra com Lucien van der Walt
Local: Ay Carmela - Rua das Carmelitas, 140, Metrô Sé. São Paulo. Telefone: 3104-4330.
Fonte: Black Flame

04/11 quinta-feira - 10h-18h
Seminário Centenário da Morte de León Tolstoi
Local:UFF (Universidade Federal Fluminense) Campus Gragoatá, Bloco O, 5º andar, Sala 1 (525). Niterói - São Domingos.
Fonte: http://www.ohomemrevoltado.blogspot.com/

05-07/11
1ª Feira do Livro Anarquista em Porto Alegre
Local: Espaço Libertário Moinho Negro, rua Marcilio Dias, 1463.
Fonte: http://flapoa.deriva.com.br

06/11 Sábado - 14h
Rediscutindo o anarquismo e o sindicalismo
Palestra com Lucien van der Walt
Local: Centro de Cultura Social: Rua Torres Homem 790, Vila Isabel, Rio de Janeiro. Telefone: 2520-7101.
Fonte: Black Flame

06/11 Sábado - 16h
Palestra “Foucault e a potência da retórica”, com Nildo Avelino (Doutor em Ciência Política e integrante do CCS).
Local: Centro de Cultura Social. Rua General Jardim, 253 Sala 22 (próximo ao metrô República). São Paulo.
Fonte: http://www.ccssp.org

27/11 Sábado - 16h
Lançamento: Malatesta. Biografia ilustrada de um símbolo do anarquismo italiano. Desenhos de Fabio Santin, texto de Elis Fraccaro, posfácio de Nildo Avelino. Tradução de Maria Ling e Nildo Avelino. Editora Robson Achiamé [21x28cm - 106p].
Local: Centro de Cultura Social. Rua General Jardim, 253 Sala 22 (próximo ao metrô República). São Paulo.
Fonte: http://www.ccssp.org

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Repudiamos o parlamentarismo e a ação eleitoral - Texto do periódico Ação Direta, RJ

Texto do antigo periódico Ação Direta, publicado em livro por Edgar Leuenroth. Mais um pouco sobre eleições...

EN SÍNTESE: — Repudiamos o parlamentarismo e a ação eleitoral, não só pela razão teórica de ser o Parlamento uma instituição autoritária, incumbida de forjar leis obrigatórias, mas ainda por outros motivos teóricos e práticos. Eis alguns:

Quanto ao Parlamento:
1.° — A assembléia parlamentar é incompetente para decidir sobre qualquer dos assuntos da vida social. Um congresso de técnicos (médicos, engenheiros, sapateiros etc), discute com conhecimento de causa o que é de seu ofício; num Parlamento, cada ponto de vista, cada ramo de saber tem sempre para o tratar uma minoria, sendo, no entanto, a maioria que decide.
2.° — O seu poder limita-se a formular leis, sendo impotente para as fazer aplicar, quando porventura cheguem a contrariar os interesses das classes dominantes, dos proprietários, que têm nas suas mãos as autoridades, e os próprios favorecidos, seus dependentes, por meio dos salários.
3.° — Ambiente burguês e politicamente dominado pelos interesses capitalistas e financeiros exerce uma inevitável corrupção sobre os que para lá entram, vindos do seio do povo trabalhador e animados das melhores intenções.
4.° — Dispensa o povo de agir diretamente e entretém as impaciências populares tanto mais eficazmente quanto mais atroadores e "revolucionários" forem os discursos ali proferidos.

Quanto à ação eleitoral:
1.° —Trata-se de obter número, e para isso fazem-se apenas vagas afirmações, esconde-se o ideal revolucionário e entra-se em combinações e intrigas.
2.° — A ação eleitoral e parlamentar chama ao socialismo uma chusma de aventureiros da pequena burguesia, de profissionais da política e do intelectualismo, etc., que corrompem e desviam o movimento. Querendo uma revolução profunda, verdadeiramente social, em que o povo espoliado e oprimido desaproprie o capitalismo e socialize os bens sociais; sabendo que essa revolução não pode ser decretada do alto, que nenhuma classe privilegiada se despoja de bom grado de seus privilégios, que a emancipação do povo há de ser obra dele próprio, como é lição da História, os anarquistas querem que o povo se habitue, desde já, a agir diretamente e a associar-se, sem confiar em criaturas providenciais, guias ou dirigentes, líderes ou messias, e sem delegar poderes a pretensos defensores ou protetores.
Ação Direta, Rio de Janeiro.

Fonte: LEUENROTH, Edgar. Anarquismo: roteiro da libertação social. Rio de Janeiro: Mundo Livre, 1963. p. 57-58.

Palestras com Lucien van der Walt em São Paulo e no Rio de Janeiro - Novembro 2010

Repassando uma informação que chegou por e-mail.

Rediscutindo o anarquismo e o sindicalismo
Palestra com Lucien van der Walt

São Paulo
Quando: 3ª feira (feriado), dia 2/11 às 16h30.
Onde: Ay Carmela: Rua das Carmelitas, 140, Metrô Sé (paralela à Rua do
Carmo, travessa da Rua Tabatinguera) Telefone: 3104-4330.

Rio de Janeiro
Quando: Sábado, dia 06/11 às 14h.
Onde: Centro de Cultura Social: Rua Torres Homem 790, Vila Isabel,
Telefone: 2520-7101.
Como chegar: # ônibus – 438, 432, 433, 232, 268, 638. # trem – descer na estação maracanã e pegar qualquer ônibus que passe no boulevard 28 de Setembro. # metrô – comprar o bilhete integração para Vila Isabel, descer na estação São Francisco Xavier e pegar o ônibus do metrô para Vila Isabel. # referências: Escola de Samba Vila Isabel, último ponto do Boulevard 28 de Setembro e Pizzaria Parmê.

O historiador sul-africano Lucien Van der Walt (fundador da Zabalaza Anarchist Communist Front – ZACF) estará no Brasil nos próximos dias e participará de eventos para a discussão do livro que escreveu em co-autoria com Michael Schmidt. “Black Flame: The Revolutionary Class Politics of Anarchism and Syndicalism” [A Chama Negra: a política revolucionária e classista do anarquismo e do sindicalismo] foi publicado pela AKPress dos EUA em 2009 e aguarda publicação em outros idiomas.

Para leitores do inglês, ver: http://black-flame-anarchism.blogspot.com/.

Realização:
Federação Anarquista de São Paulo (FASP)
www.anarquismosp.org
Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)
www.farj.org

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A França Arde...

Após o levante grego, depois de manifestações e greve geral na Espanha, a França se levanta, nesse mês de outubro, contra o plano de reforma da aposentadoria, o que elevaria a idade mínima para se aposentar de 60 para 62 anos.

Separei algumas páginas com informações a respeito da situação francesa:
A-Infos - Informe de membros da CNT-AIT sobre as manifestações contra os planos de manifestações contra os planos de Sarkozy
Pimenta Negra - Fotos das manifestações e da contestação social em França
Pimenta Negra - Manifestação em Paris contra a alteração da idade da reforma
Fotos

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

IV Semana de Liberdade Criativa - 18 a 23/10


Está ocorrendo nesta semana (de 18 a 23/10) a IV Semana de Liberdade Criativa no campus da Faculdade de Ciências e Letras UNESP-Assis. O evento que começou nesta segunda visa a criar e difundir uma arte na contramão da indústria cultural e está recheado de atividades para os últimos dias. Acontece na cidade de Assis, interior do estado de São Paulo e é aberto a todos!
Para maiores informações: http://semanadeliberdadecriativa.blogspot.com


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sobre mineiros, mídias e presidentes...

O circo midiático criado em torno do resgate dos trinta e três mineiros soterrados no Chile e a atuação do presidente Sebastián Piñera estão dando o que falar. Se por um lado, pude observar um verdadeiro sentimento de solidariedade em muitas pessoas que se sentiram envolvidas com o caso, por outro notei certa atitude, que muito me incomodou, por parte da grande mídia e do presidente chileno. A primeira se aproveitou da situação e transformou o sofrimento de mineiros e famílias em show, em mercadoria, aliás, como faz com tudo o que toca. O segundo, o sr. Piñera, montou um palanque em plena mina San José e deitou a fazer campanha política e posar de "salvador da pátria". Articulações políticas a parte, creio que qualquer político em seu lugar teria lançado mão de todos os esforços para resgatar mineiros presos a mais de 600 metros de profundidade em mais ou menos dois meses. E ainda mais com toda a imprensa mundial em cima.

Se a imprensa vendeu a história, o presidente fez seu marketing, e parece que de agora em diante usará o episódio como trunfo eleitoral. Apesar de Piñera ter assumido em março deste ano, não acredito que seja muito sábio se vangloriar por algo que seja fruto de incompetência por parte das autoridades, sendo ele quem ocupa o cargo de chefe suprema de toda autoridade chilena. Se há uma autoridade constituída, ela deve tomar providências para que fatos como esse não cheguem a ocorrer.

Em uma conversa de bar, dentre vários assuntos, um colega falava a respeito dos mineiros, já um pouco embriagado. Ele dizia que tudo aquilo foi um show e que para o "sistema" os mineiros não tinham (têm) importância. Não faziam diferença. Acho que ele não refletiu que para esse "sistema" tudo pode ser um motivo para se solidificar, toda ocasião pode, e deve, ser usada para concretizar as estruturas sócio-econômicas e culturais vigentes. Portanto, apesar de não serem cidadãos ilustres, tornaram-se heróis, extraídos da realidade, da história, do tempo; produtos embalados prontos para o consumo. Esse mesmo amigo chamou a atenção para o fato de que as pessoas e a imprensa daqui do Brasil deu demasiada atenção para os mineiros enquanto há pessoas ao nosso redor que sofrem todas as privações possíveis, que morrem ao nosso lado e pouco são notadas ou “noticiadas”. Com isso eu concordo. Há muito tempo temos vocação para sermos “caridosos”... com os outros. Caridade burguesa, desde que os alvos estejam longe de nós, não é verdade? Isso seria tema para uma outra conversa, um outro texto.

Tudo isso, a imagem do presidente e as imagens da imprensa, ajudam a manter a ignorância de grande parte da população para a situação dos mineiros chilenos, brasileiros, argentinos, ou de onde for. O descaso das autoridades e a exploração da classe mineira geraram essa situação. As condições de trabalho desses profissionais costumam ser desumanas. Outros tantos mineiros morreram no Chile nesse ano de 2010 (Diário Liberdade), e há vinte e sete anos, durante a ditadura de Pinochet, no mesmo local, dezesseis mineiros foram assassinados pelas forças do ditador (Flecheira Libertária 179). Apesar de pelo menos um mineiro considerar que ele e seus companheiros não são heróis, mas vítimas, já há especulações sobre um possível filme hollywoodiano sobre o caso.

Por essa e por outras razões sigo desconfiando da grande mídia e do esperto presidente chileno...

Dr. Bogóloff

Nota da "Redação" - Algumas outras notícias sobre os mineiros:
Pimenta Negra
Diário Liberdade
Terra

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Centro de Cultura Social - Novembro/Dezembro 2010

06/11 Sábado - 16h
“Foucault e a potência da retórica”, com Nildo Avelino (Doutor em Ciência Política e integrante do CCS).

27/11 Sábado - 16h
Lançamento: Malatesta. Biografia ilustrada de um símbolo do anarquismo italiano. Desenhos de Fabio Santin, texto de Elis Fraccaro, posfácio de Nildo Avelino. Tradução de Maria Ling e Nildo Avelino. Editora Robson Achiamé [21x28cm - 106p].

04/12 Sábado - 16h
Leitura Dramática, “As Criadas” de Jean Genet. Direção de Alberto Centurião (Dramaturgo, ator e diretor de teatro, integrante do CCS).

Centro de Cultura Social
Rua General Jardim, 253 Sala 22 (próximo ao metrô República)
São Paulo

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Feira do Livro Anarquista em Porto Alegre - Novembro 2010


Nos dias 5, 6 e 7 de novembro ocorrerá uma feira do livro anarquista na capital do Rio Grande do Sul.

"Grupos como a editora Deriva, Imaginário, Imprensa Marginal, Antena Negra, Ação Antisexista, Federação Anarquista Gaúcha, entre outros coletivos e editoras, estarão participando e organizando a 1ª Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre, nos dias 5, 6 e 7 de novembro, no Espaço Libertário Moinho Negro, rua Marcilio Dias, 1463. Na programação conversas em torno dos temas como "Anarquismo e Geografia", "Anarcologia e Protopia", "Feminismo e Anarquismo", lançamento de livros, filmes, exposições, oficinas, comida, confraternização...

A programação completa pode vista aqui:
http://flapoa.deriva.com.br/"

Fonte: http://www.ainfos.ca/pt/ainfos04674.html

El Surco 20 - Outubro 2010

Já se encontra disponível num sítio temporário a folha anarquista chilena El Surco.
O endereço da página temporária é http://srhostil.org/elsurco.

Para ler a vigésima edição do periódico clique aqui!

O conteúdo?
Editorial
Fachada y Fantasmagoría, adjetivos ausentes en cierta celebración
Artículos
Ecuador: Contra todo golpe de Estado (incluso los fingidos) • Al margen de la huelga de hambre, En torno a la batalla por los conceptos de terrorismo y violencia • La práctica del Rodeo chileno: Tortura como costumbre, Crueldad como deporte • Imprecación al Bicentenario y al orden establecido • El 11 de septiembre y los ataques contra la prensa • América Latina y la Expansión de Europa (A propósito del 12 de octubre) • Palabras y acciones que abrazan a la distancia, Situación de los/as compañeros/as secuestrados/as por el Estado • Reseña: “El ABC del Comunismo Libertario” • Breves: Axel Osorio nuevamente en la calle • Asel Luzarraga, libre y lejos • Y Más...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

IX Expressões Anarquistas 2010

Infelizmente não estou em São Paulo para participar do IX Expressões Anarquistas, evento que me chamou a atenção pela proposta e organização.
Segue abaixo o cartaz do evento que começou hoje (11/10) e está previsto para durar até amanhã (12/10).


O endereço é Rua Cerqueira Cesar, 185 - Santo Amaro - São Paulo.

Programação detalhada em http://www.ainfos.ca/ainfos20011.html
Evento organizado pela FOSP-COB.
http://cob-ait.net
http://fosp.anarkio.net

sábado, 9 de outubro de 2010

Palestra - Anarquismo e Sindicalismo na África do Sul - 10/10

Com muito atraso, novamente, divulgo a palestra sobre o movimento Anarquista e o sindicalismo revolucionário na África do Sul.
O evento acontecerá amanhã (domingo - 10/10), 16h, no Espaço Ay Carmela, em São Paulo.

Rua das Carmelitas, 140, Metrô Sé
(paralela à Rua do Carmo, travessa da Rua Tabatinguera)
Telefone: 3104 4330

Organização: Federação Anarquista de São Paulo (FASP)
http://www.anarquismosp.org

Fonte: A-Infos

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Por que os Anarquistas não votam? - Élisée Reclus

Segue abaixo, mais um texto a cerca do voto. Desta vez, é do geógrafo francês Elisée Reclus. Fonte: http://www.culturabrasil.pro.br/reclus.htm

Por que os anarquistas não votam?
Elisée Reclus
Tradução de Mario Bresighello


TUDO o que pode ser dito a respeito do sufrágio pode ser resumido em uma frase:

Votar significa abrir mão do próprio poder.

Eleger um senhor, ou muitos senhores, seja por longo ou curto prazo, significa entregar a uma outra pessoa a própria liberdade.

Chamado monarca absoluto, rei constitucional ou simplesmente primeiro ministro, o candidato que levamos ao trono, ao gabinete ou ao parlamento sempre será o nosso senhor. São pessoas que colocamos "acima" de todas as leis, já que são elas que as fazem, cabendo-lhes, nesta condição, a tarefa de verificar se estão sendo obedecidas.

Votar é uma idiotice.

É tão tolo quanto acreditar que os homens comuns como nós, sejam capazes, de uma hora para outra, num piscar de olhos, de adquirir todo o conhecimento e a compreensão a respeito de tudo. E é exatamente isso que acontece. As pessoas que elegemos são obrigadas a legislar a respeito de tudo o que se passa na face da terra: como uma caixa de fósforos deve ou não ser feita, ou mesmo se o país deve ou não guerrear; como melhorar a agricultura, ou qual deve ser a melhor maneira para matar alguns árabes ou negros. É muito provável que se acredite que a inteligência destas pessoas cresça na mesma proporção em que aumenta a variedade dos assuntos com os quais elas são obrigadas a tratar.

Porém, a história e a experiência mostram-nos o contrário.

O poder exerce uma influência enlouquecedora sobre quem o detém e os parlamentos só disseminam a infelicidade.

Nas assembléias acaba sempre prevalecendo a vontade daqueles que estão, moral e intelectualmente, abaixo da média.

Votar significa formar traidores, fomentar o pior tipo de deslealdade.

Certamente os eleitores acreditam na honestidade dos candidatos e isto perdura enquanto durar o fervor e a paixão pela disputa.

Todo dia tem seu amanhã. Da mesma forma que as condições se modificam, o homem também se modifica. Hoje seu candidato se curva à sua presença; amanhã ele o esnoba. Aquele que vivia pedindo votos, transforma-se em seu senhor.

Como pode um trabalhador, que você colocou na classe dirigente, ser o mesmo que era antes já que agora ele fala de igual para igual com os opressores? Repare na subserviência tão evidente em cada um deles depois que visitam um importante industrial, ou mesmo o Rei em sua ante-sala na corte!

A atmosfera do governo não é de harmonia, mas de corrupção. Se um de nós for enviado para um lugar tão sujo, não será surpreendente regressarmos em condições deploráveis.

Por isso, não abandone sua liberdade.

Não vote!

Em vez de incumbir os outros pela defesa de seus próprios interesses, decida-se. Em vez de tentar escolher mentores que guiem suas ações futuras, seja seu próprio condutor. E faça isso agora! Homens convictos não esperam muito por uma oportunidade.

Colocar nos ombros dos outros a responsabilidade pelas suas ações é covardia.

Não vote!

Bakunin e Malatesta e o voto e o sistema eleitoral...



Durante essa semana senti a necessidade de divulgar dois textos de grandes nomes do Anarquismo sobre o voto popular e as eleições; Bakunin e Malatesta. O primeiro, “A ilusão do sufrágio universal”, foi escrito por Bakunin e continua atual, apesar de ter sido escrito na Suíça há cerca de 150 anos. Para ler o texto integral clique aqui; abaixo segue alguns trechos do texto:

Toda decepção com o sistema representativo está na ilusão de que um governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular deve e pode representar a verdadeira vontade do povo. Instintiva e inevitavelmente, o povo espera duas coisas: a maior prosperidade possível combinada com a maior liberdade de movimento e de ação. Isto significa a melhor organização dos interesses econômicos populares, e a completa ausência de qualquer organização política ou de poder, já que toda organização política se destina à negação da liberdade. Estes são os desejos básicos do povo. Os instintos dos governantes, sejam legisladores ou executores das leis, são diametricamente opostos por estarem numa posição excepcional.
[...]
Quem fala de poder político, fala de dominação.
[...]
É verdade que, em dia de eleição, mesmo a burguesia mais orgulhosa, se tiver ambição política, deve curvar-se diante de sua Majestade, a Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho, e a burguesia, a seus lucrativos negócios e às intrigas políticas. Não se encontram e não se reconhecem mais. [...]

Desconheço o autor da tradução e notei alguns erros na transcrição. Não quero, desta forma, julgar o trabalho de ninguém, mas quero deixar claro que é importante que as idéias sejam expostas de forma clara e até certo ponto de acordo com as normas gramaticais. É necessário que sejamos levados a sério.

O outro texto do qual selecionei alguns trechos é “A política parlamentar no movimento socialista”, de Errico Malatesta, que também fala da farsa da representatividade política. O artigo de Malatesta apesar de ser maior que o do Bakunin é um pouco mais datado, por conter mais informações no texto sobre a o contexto do autor.
Encontrei neste artigo, os mesmos problemas que no do Bakunin, com relação aos erros de transcrição. Para ler o texto integral, clique aqui. Eis alguns trechos interessantes:


O Sufrágio Universal não é um instrumento de emancipação social, mas um meio de submissão ao Capital.
[...]
Há países onde o sufrágio universal existe e funciona há muito tempo; há outros que viram estabelecer, depois abolir, em seguida restabelecer, depois abolir, em seguida restabelecer novamente, alternadamente, o sufrágio universal; e as condições morais e materiais das massas permaneceram sempre as mesmas...
[...] o sufrágio universal nunca e em nenhum lugar serviu para melhorar o destino dos trabalhadores.
[...]
Tanto nas repúblicas quanto nas monarquias onde ele existe, as Câmaras são compostas de proprietários, advogados e outros privilegiados, assim como nos países onde o sufrágio é mais ou menos restrito às classes possuidoras e cultas. E nestes países como nos outros, as leis que as Câmaras fazem, servem apenas para ratificar a exploração e defender os exploradores.
[...]
Na teoria, o sufrágio universal é o direito da maioria de impor sua vontade à minoria. Este pretenso direito é uma injustiça porque a personalidade, a liberdade e o bem-estar de um único homem são tão dignos de respeito, tão sagrados quanto aqueles de toda a Humanidade.
Aliás, não há nenhuma razão para crer que a verdade, a justiça, o interesse comum encontrem-se sempre do lado da maioria: os fatos provaram, ao contrário, que é geralmente o inverso... Se todos os homens, exceto um, estivessem satisfeitos de ser escravos e de se submeter, sem necessidades naturais, a todos os tipos de sofrimentos, esse teria razão de se revoltar e de exigir liberdade e bem-estar. Os votos, o número, não decidem nada, nenhum direito se perde, nenhum direito se cria por eles.
Uma sociedade igualitária deve estar fundada sobre o livre e unânime acordo de todos os seus membros. Mesmo numa sociedade socialista, na qual tivesse coompletamente desaparecido a opressão e a exploração do homem e onde o princípio de solidariedade regesse todas as relações humanas, é verdade que poderia acontecer, e aconteceria com toda a certeza, que se produzissem casos onde o recurso ao voto seria necessário, ou pelo menos cômodo. Esses casos se tornariam cada vez mais raros na medida em que a ciência da sociedade descobrisse e tornasse evidentes as soluções que corresponderiam exatamente aos diferentes problemas da vida coletiva.
Mas enfim, haverá sempre casos em que diversas soluções se apresentarão e onde será necessário de se limitar a um expediente mais ou menos arbitrário, sem que seja possível ou julgado oportuno dividir-se em tantas frações quanto existam soluções preferidas. O mais rápido, nesses casos, é que a minoria se adapte ao desejo da maioria. Bem, votar-se-á então, provavelmente; mas num caso como desse tipo, o voto não é um princípio, ele não é um direito nem um dever mas um pacto, uma convenção entre associados!
[...]
Com efeito, cada eleitor só nomeia um deputado, ou um pequeno número de deputados sobre várias centenas que compõem habitualmente uma Assembléia. É verdade que, mesmo quando os eleitores vêem seu próprio candidato ser eleito, sua vontade, que durante as eleições já não contava praticamente nada, seria representada por um único deputado, que, ele próprio, tem um papel mínimo na Câmara. A Câmara, tomada em seu conjunto, não representa de modo algum a maioria dos eleitores. Cada um dos deputados é eleito de um certo número de leitores mas o corpo eleitoral, enquanto totalidade, não é representado.
Assim, ocorre que fatos que concernem, por exemplo, tal localidade ou tal corporação devem ser julgados por uma assembléia de pessoas estranhas a essa localidade ou a essa corporação, ignorantes ou indiferentes em relação a seus interesses e onde um único, ou um pequeno número, pode, com maior ou menor razão, representar um mandato recebido dos próprios interessados. [...]
[...]
Enquanto os deputados, distantes do povo, desinteressados de suas necessidades, impotentes em satisfazê-las mesmo que quisessem, acabam se ocupando apenas da consolidação e do crescimento de seu próprio poder, da obtenção constante de novos subsídios e, finalmente, da liberação de toda dependência para com o povo [...]

Que dizer das condições reais nas quais o sufrágio universal é exercido numa sociedade onde a maioria da população, atormentada pela miséria e embrutecida pela ignorância e pela superstição vê sua existência depender de uma pequena minoria que detém a riqueza e o poder? Em regra geral, o eleitor pobre não é e não pode ser capaz de votar de modo consciente e livre, votar como quiser.
[...]
É certo que os camponeses e os operários, mesmo os menos esclarecidos, sabem mais do que os doutores em economia política quando se trata de seus interesses diretos, das coisas que eles vêem e tocam, de se seu trabalho, de sua casa, de sua vida quotidiana. Eles podem facilmente ter uma opinião sobre as questões que lhes concernem, quando elas são apresentadas de modo simples e natural. Eles saberiam dizer sim ou não se querem que os patrões, sem sair de suas cadeiras, retirem deles a melhor parte do fruto de seu trabalho. Eles saberiam dizer se querem ou não ser soldados. Saberiam como empregar a riqueza de sua comuna ou de sua nação se eles possuíssem todas as informações necessárias sobre os produtos disponíveis, sobre a capacidade de produção e sobre as necessidades de todos os seus concidadãos. Saberiam como ensinar uma profissão aos filhos... E tudo aquilo que não soubessem ou não compreendessem, logo aprenderiam se tivessem que se ocupar eles próprios de tudo isso, para responder a uma necessidade prática.
Mas se os problemas que lhes apresentam não os concernem, ou se são complicados por interesses que lhes são estranhos a tal ponto que eles não possam mais reconhecê-los; se as coisas mais simples são obscurecidas por uma terminologia técnica que faz da política uma ciência oculta; se eles não têm o tempo de se informar e de refletir, e se não se sentem motivados a fazer porque sabem muito bem que não cabe a eles decidir e que há os que pensam por eles, nesse caso então seu voto será inconsciente, como é geralmente o caso.

sábado, 25 de setembro de 2010

A opção pelo voto nulo...


Recebi o texto do meu amigo Bogóloff sobre as eleições brasileiras e o voto nulo. Parece mais um desabafo, mas como julgo de interesse comum, publico aqui. Espero que aproveitem a leitura. A escrita é um pouco descuidada, ainda falta estilo ao Bogóloff...
Silva M. O.



As eleições estão chegando (03 de outubro) e os eleitores vivem num impasse sobre em quem, ou como, votar. Eu, particularmente, tenho justificado meu voto, pois me encontro freqüentemente fora da região em que registrei meu título de eleitor, porém sou partidário do voto nulo, não como dogma, mas como forma de protesto. Sei que isso pode soar infantil, ou remeter a uma rebeldia gratuita. Vou me explicar...
A cada eleição percebo o quanto o circo eleitoral, sem menosprezo aos circos “comuns”, é infantil. Os candidatos, como já observado por um dos pretendentes à presidência, utilizam um discurso com altas doses de “bom mocismo” (pura enganação!). Além de empregarem, em seus programas e discursos, psicologia barata e pedagogia infantil. Tratam os eleitores como burros ou incapazes de raciocínio e se propõem a executar obras impossíveis ou proteger os cidadãos. Não obstante, as faltas de raciocínio e memória são percebidas nos resultados das urnas eletrônicas a cada dois anos.
Cada vez mais os candidatos percebem o caráter ridículo do horário eleitoral, o que se nota pelas “propostas” de Clodovil (esse já foi...), Ronaldo Ésper (não sou homofóbico), Bozo, Tiririca, Maguila, ex-jogadores de futebol, etc. Não preciso dizer que por agora, eles ainda não possuem programa “sério”. Depois de eleitos, o partido logo arruma algumas posturas para eles. Falei do Clodovil, pois ele foi eleito com uma propaganda, no mínimo, estranha e com propostas que não diziam nada a ninguém. Eles não são os únicos. Os candidatos “sérios” também falam, falam e nada dizem.
Essa seriedade não me engana. Tentam passar a idéia de que o jogo político é sério e necessário. Cada vez mais é difícil acreditar nisso. Lima Barreto citava Bossuet, quase cem anos atrás, para falar que o fim da política deveria ser tornar a vida dos seres humanos mais fácil e feliz. O próprio Barreto não cansava de mostrar que a política de sua época, “republicana”, se esforçava por, ao contrário, tornar os brasileiros cada vez mais infelizes. Percebo, sem muita dificuldade, que a realidade do começo do século passado é semelhante a nossa.
Quanto aos partidos, suas nomenclaturas não possuem mais significado. Só há situação e oposição, que se sucedem e se atacam, mas agem de forma idêntica e sob os mesmo ideais. Além de sociais-democratas e “trabalhadores”, temos “democratas”, “progressistas”, “liberais”, “socialistas”, “comunistas”, “republicanos” (?) – todos a compactuar com a velhacaria. Fazem jogo partidário, jogo político a todo momento. O que rege as atitudes dos partidos e dos políticos é o interesse, seja ele qual for, mas nunca, de forma alguma, o da população.
A imprensa, da mesma forma, age com “seriedade”. Empurra o eleitor aos políticos sólidos; a candidata do atual presidente e o principal candidato de oposição (antiga situação, mas perceba que não houve mudança significativa de um governo para o outro). Os jornais participam do jogo político e, por meio do discurso, dão sua contribuição para um ou para outro. Os donos dos jornais também têm seus interesses. Por que não poderiam ter?
E esse show de horrores se depara com a população de dois em dois anos. E de dois em dois anos esses candidatos correm atrás dos eleitores, se apertam em ônibus e se esmagam em metrôs, percorrem ruas e pontos movimentados, distribuem autógrafos, posam para fotos e estampam belas notas em seus sites. Após a eleição? Não caminham pelos mesmos lugares. É que, quando eleitos, andam sempre ocupados, sem tempo para esclarecimentos e contatos com a população. Foi Proudhon quem disse que a partir do momento em que entrou para a Assembléia Nacional ficou distanciado do povo e que os representantes da população são aqueles que mais ignoram os desejos e as necessidades desta.
Mas estive todo esse tempo a desabafar contra o jogo político que me esqueci de justificar o voto nulo. O voto nulo não possui grande eficácia. Ele é desacreditado pela maior parte da população brasileira. Ela acredita que aqueles que votam “nulo” não cumprem com seus deveres de cidadão e que não podem exigir nada após anularem seus votos. Ao que parece, após leitura de diversos debates a respeito, o voto nulo não possui diferença do voto em branco, sendo ambos considerados não válidos para o resultado das eleições. Para mim, o voto nulo é ideológico, é uma forma de mostrar que algo está errado e que não concordo com essa farsa política. Contudo, ele não faz a revolução social, mas serve como amostragem do descontentamento para a elite, que participa do jogo, e também para os subversivos, inconformados e descontentes com esse sistema eleitoral, político e social. Serve como uma espécie de retorno, de estatística para planejar métodos de ação. O voto em branco, ao contrário, seguindo o que o nome indica, aponta para uma aceitação do estado das coisas e que apenas falta um candidato apto a receber o voto. Isto, é claro, interpretando semanticamente ambos os termos. Na prática, para o sistema eleitoral, não dizem nada.
Esta opção, pelo voto nulo, pode servir para começar uma reflexão sobre a obrigatoriedade do voto. Mas isso é outra história e tema para outro texto...
Portanto, senhores, após anular o voto não mantenham sua consciência limpa pensando que já fizeram a sua parte. Há muito o que fazer e tantas batalhas ainda por perder (como dizem os Mariachi Guerrilla)...

Dr. Bogóloff

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Centro de Cultura Social - Programação Outubro 2010

02/10 Sábado - 16h
"A trajetória do Centro de Cultura Social (1933-2007)", com Lúcia Parra (Historiadora formada pela USP e integrante do CCS).

16/10 Sábado - 16h
Eu, ator e anarquista: homenagem a Chico Cuberos”. Exibição do último trabalho teatral de Chico Cuberos, o monólogo O último programa de Cubanacan (texto e direção de Alberto Centurião).

23/10 Sábado - 16h
“O paradigma indiciário na construção do conhecimento” [II], com Anna Gicelle Alaniz (Doutora em História pela USP e integrante do CCS).

Centro de Cultura Social
Rua General Jardim, 253 Sala 22 (próximo ao metrô República)
São Paulo

sábado, 18 de setembro de 2010

Aurora Obreira 05 - Setembro/Outubro 2010


Divulgo aqui mais uma publicação de cunho anarquista. Trata-se da Aurora Obreira n° 5, uma revista anarcossindicalista ligada à FOSP-COB (Federação Operária de São Paulo e Confederação Operária Brasileira), referente aos meses de setembro e outubro.
Para ter acesso à revista, clique aqui!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Conheçam o CICAS

O CICAS (Centro Independente de Cultura Alternativa e Social) é um espaço autônomo que funciona onde jazia um centro comunitário abandonado. O local foi recuperado e hoje hospeda diversas atividades culturais como oficinas de teatro, literatura, música e meio ambiente, aulas de artesanato, inglês e dança do ventre, e ainda contação de histórias e capoeira. Exemplos tirados do "cardápio" de setembro.

De setembro a outubro o CICAS promoverá a II Mostra de Teatro de Rua da Zona Norte (de São Paulo) - 19/09-31/10.

Recentemente, este espaço esteve prestes a ser demolido:

1ª parte


2ª parte



Mas, ao que parece, permanecerá ativo e construindo resistência cultural.

Para quem quiser conhecer de perto:
CICAS São Paulo
Avenida do Poeta, 740
Jd. Julieta, São Paulo
http://projetocicas.blogspot.com/

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Morte acidental de um anarquista, Dario Fó - em espanhol

Como percebi que houve procura pela obra dramática do italiano Dario Fó aqui nesse blog, resolvi disponibilizar para download um arquivo em pdf com a peça em espanhol.
Clique aqui para baixar!

sábado, 11 de setembro de 2010

El Surco 19 - Setembro 2010

Agora já está disponível o periódico chileno El Surco n° 19 de Setembro. Trata-se de um número especial abordando o bicentenário da independência chilena, a situação dos mineiros, com destaque para o "caso bombas" (anarquistas presos por suspeita de atentados a bomba).
Para ler, clique aqui!


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Centro de Cultura Social - Programação Setembro/10

18/09 Sábado - 16h
"O movimento punk numa história do anarquismo no Brasil"
Bruno Pereira de Oliveira (Historiador formado pela PUC-Campinas)

Centro de Cultura Social
Rua General Jardim, 253 Sala 22 (próximo ao metrô República)
São Paulo

Hypomnemata 124 (Agosto) - Boletim mensal Nu-Sol

Também já se encontra há algum tempo no ar o boletim mensal do Nu-Sol, o hypomnemata 124, referente ao mês de Agosto.
O tema é a Ação Direta.

Segue um trecho do texto, com um resgate do termo ação direta:

"A ação direta aparece, inicialmente, no interior das práticas anarquistas do século XIX, situada por Proudhon, sem dar-lhe esse nome, como atitude antirrepresentativa vinculada à criação de formas autogestionárias de vida: eliminação da representação política e das mediações nas relações produtivas e nas práticas associativas.
Mais tarde, a ação direta aparece como sinônimo de propaganda pela ação e é identificada com as práticas terroristas. Depois, o sindicalismo revolucionário a relacionou à ação sindical e a designou como propaganda pelo fato: tática revolucionária dos sindicalistas antipartidários, que viam no sindicato a viabilização da revolução, sem mediações vanguardistas. Como tal, tornou-se identificada ao anarco-sindicalismo.
Émile Pouget afirma que a ação direta é a ruína do espírito de submissão e resignação como materialização do princípio de liberdade. Seguindo as pegadas de Proudhon, ele considera que é no movimento que se diferenciam as ações revolucionárias, ponto que será mais tarde enfatizado por Errico Malatesta.
Voltairine de Clayre (a anarquista mais dadivosa e brilhante da América, segundo Emma Goldman, a mulher mais perigosa da América) é ainda mais enfática. A ação direta pode ser violenta ou não; ela antecipa qualquer lei e acontecimento revolucionário; está nas relações cotidianas contra as desigualdades; volta-se contra a autoridade, a favor de desobediências. A ação direta violenta alerta os indiferentes que a opressão se tornou intolerável, ou como disse Émile Henry: soa a voz da dinamite, ato de sabotagem, boicotes como uma atividade incansável.
É pela ação direta, e não pelos pronunciamentos, que os problemas se tornam evidentes!
Desde então, a ação direta retoma sua amplitude como prática anarquista em qualquer ocasião diante de qualquer centralidade.
"

Lembro também, aos parcos leitores, que o mesmo grupo publica as flecheiras libertárias todas as terças-feiras.
Para ler a Hypomnemata 124 clique aqui!
Para o sítio do Nu-Sol

El Surco 18 (Chile) e El Libertario 60 (Venezuela)


Com quase um mês de atraso divulgo a décima oitava edição do El Surco, referente ao mês de agosto, e a hexagésima do El Libertario, referente aos meses de setembro-outubro.
Recomendo ambos para conhecer um outro ponto de vista dos países nos quais são publicados e para se ter uma opinião desde a perspectiva de ambos sobre temas locais e universais. Os dois periódicos têm seção dedicada à América Latina e ao mundo, além da maior parte dedicada ao Chile e à Venezuela, respectivamente.

Para ler El Surco 18 clique aqui! - A edição de setembro já foi anunciada, mas o link está com problema.

Para ler El Libertario 60 clique aqui! (Direção para o índice de conteúdos, mas também há um link para que se possa baixar o periódico)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Os Libertários

Jorge E. Silva

O texto a seguir foi retirado do sítio Canto Libertário e aborda o termo que aparece em seu título. Num momento em que ocorre uma enorme confusão de significados, é importante retomar algumas definições para que elas, de certa forma, orientem àqueles que buscam uma vida mais livre - Dr. Bogóloff

Ultimamente virou moda da esquerda e da direita – para usar esses velhos conceitos enquanto não desaparecem do mercado – usar à toa a palavra libertários e tudo qualificar de libertário.
Esse termo de raiz francesa, não deve ser confundido com o neologismo de origem americana, libertarian, que eu traduziria por libertarista, mas que quando usado pela nova direita norte-americana deveria ser traduzido por liberticida, tal é a genealogia do cinismo de tais personagens.
Quanto à palavra libertários, ela foi introduzida nos debates sociais pelos anarquistas franceses no final do século XIX, mas, como é óbvio, nunca registraram o termo ou sequer pensaram em declarar o monopólio do seu uso ou a sua propriedade, até porque como afirmou enfaticamente Proudhon: a propriedade é um roubo.
No entanto, a partir daí tornou-se sinônimo de anarquista, como é fácil conferir em qualquer bom dicionário de língua francesa ou portuguesa. O dicionário Aurélio, por exemplo, define assim o termo: partidário da liberdade absoluta; anarquista. No dicionário da Porto Editora a definição é similar: indivíduo que não admite nenhuma restrição às liberdades individuais; anarquista. Nesse sentido a palavra libertário foi escolhida para dar nome a jornais e publicações anarquistas em vários países – no Brasil existiram pelo menos quatro jornais com esse nome na década de 20 e um quinto na década de 60 –, sendo também o adjetivo usado para qualificar um socialismo federalista sem Estado, ou as práticas anti-autoritárias dos anarco-sindicalistas e anarquistas.
O uso dessa palavra não foi por acaso, a liberdade sempre fez parte da reflexão central dos anarquistas que, a partir do século XVIII, fizeram uma crítica demolidora do Estado e do autoritarismo. Essa crítica, começada por William Godwin e continuada por Proudhon, Bakunin, Kropotkin e por importantes pensadores do nosso século como Herbert Read, Paul Goodman, Murray Bookchin e Noam Chomsky – e no Brasil por militantes como José Oiticica, Edgard Leuenroth, Fábio Luz e Maria Lacerda Moura – manteve, no essencial, toda a sua pertinência no nosso século marcado por ditaduras de todo o tipo e pelo culto do Estado forte. No seio da corrente socialista, não sendo os libertários os únicos que tentaram pensar uma sociedade autônoma e auto-organizada, foram certamente os que foram mais longe na defesa desse objetivo. Por essa razão tornaram-se o alvo preferencial de todos os autoritários: dos defensores do Estado liberal e das ditaduras do Capital aos partidários da chamada ditadura do proletariado.
A influência social e intelectual do anarquismo foi marcante em vários países e mesmo quando enfraqueceram como movimento social, mantiveram um discurso e uma prática que levou a que escritores como os surrealistas, Breton e Péret, pensadores como Camus, e movimentos sociais como o ecologista e pacifista, expressassem a afinidade que tinham em relação a esse movimento social histórico que manifesta o desejo de materialização de uma radical justiça e liberdade nas sociedades humanas.
Não me parece que seja por ignorância que, hoje, o termo libertário se vulgarizou na boca e na escrita dos maiores desafetos da liberdade. Depois que o muro caiu no Leste e os porões das ditaduras foram abertos no Oeste, virou moda falar de liberdade e libertários, o que pode, de certa forma, ser encarado como um progresso. Melhor que se fale de liberdade do que de autoridade, melhor que se expressem valores libertários que autoritários, preferível que se deseje o fortalecimento da sociedade do que do Estado. Esse era certamente também o desejo dos anarquistas franceses que introduziram o termo nos debates sociais e políticos.
No entanto, dá para desconfiar quando se vê os liberais defensores do Estado chamado mínimo – mínimo na sua vertente social e máximo no poder das burocracias, da repressão e do militarismo – e os socialistas defensores do Estado máximo, usarem agora também a expressão libertário. Nesses casos, o uso significa somente um modismo ou adaptação aos novos tempos por parte de partidários de velhos valores autoritários. Até porque a "modernização" lingüística não impede que se detectem nas outras palavras usadas e, principalmente, nas suas práticas, os desejos de um Estado forte e de uma sociedade fraca, de muita autoridade e poder e pouca autonomia e liberdade. Ou seja, precisamente o contrário do que significa etimológica e historicamente a palavra libertário.

CCSP - Programação de Agosto/10


07/08, sábado 14h30
"World Cup Soccer and the popular struggle of social movements" [“Copa do Mundo de Futebol e a luta popular dos movimentos sociais”], com Jonathan (Integrante da Frente Anarquista Comunista Zabalaza da África do Sul)

21/08, sábado 16h
Cinema & Anarquia: “Desaparecido, um grande mistério” de Costa-Gavras (USA, 1982)

El Surco 17 - Julho 2010

Já está, há algum tempo, disponível a décima sétima edição do jornal chileno El Surco. Para acessá-lo, clique aqui.
Conteúdo desta edição
Editorial - ¿A quién le metieron los goles?;
Artigos: Luis Vitale Cometa ha muerto • ¿Dónde se es?: Paisaje y Arraigo • Documento: A mi hija • El cáncer autoritario: Ley Antiterrorista contra los mapuche • “Caso Bombas”: Un nuevo cazador preparando el próximo golpe • Unidad y Autonomía • África: “continente Negro y Rojo” • Propagación: Feria de difusión y propaganda anarquista y antiautoritaria • Comunicado: Colectivo 22 de enero en huelga de hambre • Reseña: Libro El Educador Mercenario • Breves: Asel Luzarraga, a un paso de derribar el Montaje y Agresión a Esteban Huiniguir en Cárcel de Alta Seguridad.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

CCSP - Recesso em Julho e Lançamento do livro "Do governo dos vivos" de Foucault


Novamente, para romper o silêncio - que dessa vez foi em respeito à perda cultural advinda com a morte de Saramago - informo que haverá, no mês de julho, recesso das atividades do Centro de Cultura Social de São Paulo. Essa paralisação nas atividades ocorre após ter sido lançado, no dia 26 do mês corrente, o livro Do governo dos vivos, de Michel Foucault pela editora Achiamé. Tradução, transcrição e notas por Nildo Avelino.

Para maiores informações:
CCSP
Achiamé

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Hoje morreu o escritor português Saramago


Hoje, 18/06/2010, morreu o escritor português José Saramago (1922-2010). Grande nome da literatura portuguesa e mundial, era partidário do comunismo e criticava em suas declarações e obras a sociedade em que vivia. Conseguiu ir além da literatura panfletária e criou belíssimas obras de arte. O mundo perde outro ateu, de imenso valor para a literatura e a arte em geral, que ansiava um mundo mais justo. O escritor vivia em Lanzarote, nas Ilhas Canárias (Espanha).

Crédito da foto: Tuca Vieira/Folhapress

Outras informações:
http://www.kaosenlared.net/noticia/fallece-escritor-periodista-portugues-jose-saramago
http://pimentanegra.blogspot.com/2010/06/jose-saramago-1922-2010-no-seu-livro.html
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,morre-aos-87-anos-o-escritor-jose-saramago,568550,0.htm
http://www1.folha.uol.com.br/especial/2010/josesaramago/

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O naufrágio da economia grega, a ilha insubmissa e as ondas reflexivas na internet


(Indicação de dois artigos sob o ponto de vista anarquista)

Tenho lido diversos textos sobre os acontecimentos recentes na Grécia. Se por um lado, a crise grega teve pesada carga negativa para o capitalismo e para o bloco europeu, por outro, as manifestações da população grega deram novo ânimo ao movimento anarquista da Grécia, e de todo o mundo, e aos movimentos autonomistas e libertários. Essas manifestações foram reflexos do plano de austeridade, imposto pela União Européia e pelo FMI ao governo grego para a liberação de empréstimo que visa a recuperação da frágil economia do país. Anos de corrupção de governos de direita e esquerda fizeram com que a economia naufragasse e desembocasse nesse mar revolto.

Na internet, dentre vários artigos que tenho lido, dois me chamaram a atenção. O primeiro é uma reflexão do Nu-SOL (Núcleo de Sociabilidade Libertária) sobre o anarquismo grego. O texto do Nu-Sol, "grécia: a vida começa com fogo", abarca os avanços e recuos do anarquismo neste oceano de incertezas grego. Partindo daí, põe na prancha não apenas o movimento daquele canto do mundo. Percebendo a possível captura da insubmissão grega pelo sistema, o Nu-SOL afirma: "É preciso dissolver a distinção entre coletivistas e individualistas./É precioso o ar daqueles que se incomodam com a sobrevivência a partir de si próprios./É pressa por revolta!/ O mundo é outro! O fogo é o mesmo!".

O outro texto está na última edição do periódico chileno El Surco, a de número 16. O artigo de Malgenio Volga, "Grecia: la cuna y la tumba de occidente" (Grécia: o berço e a tumba do ocidente, numa tradução livre), também solto nesse mar de informações, reflete a situação na qual o anarquismo grego se encontra, recuperando os acontecimentos que fizeram desaguar as revoltas gregas. O texto termina apontando o fato de que o conflito ainda não possui um desenlace: "El relato aún se escribe y dependerá de la fuerza de cada agonista de que la obra finalizada desemboque en tragedia o epopeya de una nueva sociedad que puja por abrirse paso en un contexto de crisis económica, ecológica, política, total".

Especulações a parte, são dois bons textos que merecem ser lidos por quem acompanha as notícias da Grécia, que ainda não encontrou terra firme, nesse oceano de informações que é a internet. E, desta forma, difundo também a 16ª edição do El Surco, basta entrar na página do jornal mensal e baixá-lo. Trata-se de periódico que, apesar de curto, abarca assuntos nacionais (chilenos) e internacionais com igual relevo. Que esse belo oceano não deixe de enviar boas ondas, como essas, à nossas praias que anseiam por liberdade...

Dr. Bogóloff