quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Repudiamos o parlamentarismo e a ação eleitoral - Texto do periódico Ação Direta, RJ

Texto do antigo periódico Ação Direta, publicado em livro por Edgar Leuenroth. Mais um pouco sobre eleições...

EN SÍNTESE: — Repudiamos o parlamentarismo e a ação eleitoral, não só pela razão teórica de ser o Parlamento uma instituição autoritária, incumbida de forjar leis obrigatórias, mas ainda por outros motivos teóricos e práticos. Eis alguns:

Quanto ao Parlamento:
1.° — A assembléia parlamentar é incompetente para decidir sobre qualquer dos assuntos da vida social. Um congresso de técnicos (médicos, engenheiros, sapateiros etc), discute com conhecimento de causa o que é de seu ofício; num Parlamento, cada ponto de vista, cada ramo de saber tem sempre para o tratar uma minoria, sendo, no entanto, a maioria que decide.
2.° — O seu poder limita-se a formular leis, sendo impotente para as fazer aplicar, quando porventura cheguem a contrariar os interesses das classes dominantes, dos proprietários, que têm nas suas mãos as autoridades, e os próprios favorecidos, seus dependentes, por meio dos salários.
3.° — Ambiente burguês e politicamente dominado pelos interesses capitalistas e financeiros exerce uma inevitável corrupção sobre os que para lá entram, vindos do seio do povo trabalhador e animados das melhores intenções.
4.° — Dispensa o povo de agir diretamente e entretém as impaciências populares tanto mais eficazmente quanto mais atroadores e "revolucionários" forem os discursos ali proferidos.

Quanto à ação eleitoral:
1.° —Trata-se de obter número, e para isso fazem-se apenas vagas afirmações, esconde-se o ideal revolucionário e entra-se em combinações e intrigas.
2.° — A ação eleitoral e parlamentar chama ao socialismo uma chusma de aventureiros da pequena burguesia, de profissionais da política e do intelectualismo, etc., que corrompem e desviam o movimento. Querendo uma revolução profunda, verdadeiramente social, em que o povo espoliado e oprimido desaproprie o capitalismo e socialize os bens sociais; sabendo que essa revolução não pode ser decretada do alto, que nenhuma classe privilegiada se despoja de bom grado de seus privilégios, que a emancipação do povo há de ser obra dele próprio, como é lição da História, os anarquistas querem que o povo se habitue, desde já, a agir diretamente e a associar-se, sem confiar em criaturas providenciais, guias ou dirigentes, líderes ou messias, e sem delegar poderes a pretensos defensores ou protetores.
Ação Direta, Rio de Janeiro.

Fonte: LEUENROTH, Edgar. Anarquismo: roteiro da libertação social. Rio de Janeiro: Mundo Livre, 1963. p. 57-58.

Palestras com Lucien van der Walt em São Paulo e no Rio de Janeiro - Novembro 2010

Repassando uma informação que chegou por e-mail.

Rediscutindo o anarquismo e o sindicalismo
Palestra com Lucien van der Walt

São Paulo
Quando: 3ª feira (feriado), dia 2/11 às 16h30.
Onde: Ay Carmela: Rua das Carmelitas, 140, Metrô Sé (paralela à Rua do
Carmo, travessa da Rua Tabatinguera) Telefone: 3104-4330.

Rio de Janeiro
Quando: Sábado, dia 06/11 às 14h.
Onde: Centro de Cultura Social: Rua Torres Homem 790, Vila Isabel,
Telefone: 2520-7101.
Como chegar: # ônibus – 438, 432, 433, 232, 268, 638. # trem – descer na estação maracanã e pegar qualquer ônibus que passe no boulevard 28 de Setembro. # metrô – comprar o bilhete integração para Vila Isabel, descer na estação São Francisco Xavier e pegar o ônibus do metrô para Vila Isabel. # referências: Escola de Samba Vila Isabel, último ponto do Boulevard 28 de Setembro e Pizzaria Parmê.

O historiador sul-africano Lucien Van der Walt (fundador da Zabalaza Anarchist Communist Front – ZACF) estará no Brasil nos próximos dias e participará de eventos para a discussão do livro que escreveu em co-autoria com Michael Schmidt. “Black Flame: The Revolutionary Class Politics of Anarchism and Syndicalism” [A Chama Negra: a política revolucionária e classista do anarquismo e do sindicalismo] foi publicado pela AKPress dos EUA em 2009 e aguarda publicação em outros idiomas.

Para leitores do inglês, ver: http://black-flame-anarchism.blogspot.com/.

Realização:
Federação Anarquista de São Paulo (FASP)
www.anarquismosp.org
Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)
www.farj.org

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A França Arde...

Após o levante grego, depois de manifestações e greve geral na Espanha, a França se levanta, nesse mês de outubro, contra o plano de reforma da aposentadoria, o que elevaria a idade mínima para se aposentar de 60 para 62 anos.

Separei algumas páginas com informações a respeito da situação francesa:
A-Infos - Informe de membros da CNT-AIT sobre as manifestações contra os planos de manifestações contra os planos de Sarkozy
Pimenta Negra - Fotos das manifestações e da contestação social em França
Pimenta Negra - Manifestação em Paris contra a alteração da idade da reforma
Fotos

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

IV Semana de Liberdade Criativa - 18 a 23/10


Está ocorrendo nesta semana (de 18 a 23/10) a IV Semana de Liberdade Criativa no campus da Faculdade de Ciências e Letras UNESP-Assis. O evento que começou nesta segunda visa a criar e difundir uma arte na contramão da indústria cultural e está recheado de atividades para os últimos dias. Acontece na cidade de Assis, interior do estado de São Paulo e é aberto a todos!
Para maiores informações: http://semanadeliberdadecriativa.blogspot.com


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sobre mineiros, mídias e presidentes...

O circo midiático criado em torno do resgate dos trinta e três mineiros soterrados no Chile e a atuação do presidente Sebastián Piñera estão dando o que falar. Se por um lado, pude observar um verdadeiro sentimento de solidariedade em muitas pessoas que se sentiram envolvidas com o caso, por outro notei certa atitude, que muito me incomodou, por parte da grande mídia e do presidente chileno. A primeira se aproveitou da situação e transformou o sofrimento de mineiros e famílias em show, em mercadoria, aliás, como faz com tudo o que toca. O segundo, o sr. Piñera, montou um palanque em plena mina San José e deitou a fazer campanha política e posar de "salvador da pátria". Articulações políticas a parte, creio que qualquer político em seu lugar teria lançado mão de todos os esforços para resgatar mineiros presos a mais de 600 metros de profundidade em mais ou menos dois meses. E ainda mais com toda a imprensa mundial em cima.

Se a imprensa vendeu a história, o presidente fez seu marketing, e parece que de agora em diante usará o episódio como trunfo eleitoral. Apesar de Piñera ter assumido em março deste ano, não acredito que seja muito sábio se vangloriar por algo que seja fruto de incompetência por parte das autoridades, sendo ele quem ocupa o cargo de chefe suprema de toda autoridade chilena. Se há uma autoridade constituída, ela deve tomar providências para que fatos como esse não cheguem a ocorrer.

Em uma conversa de bar, dentre vários assuntos, um colega falava a respeito dos mineiros, já um pouco embriagado. Ele dizia que tudo aquilo foi um show e que para o "sistema" os mineiros não tinham (têm) importância. Não faziam diferença. Acho que ele não refletiu que para esse "sistema" tudo pode ser um motivo para se solidificar, toda ocasião pode, e deve, ser usada para concretizar as estruturas sócio-econômicas e culturais vigentes. Portanto, apesar de não serem cidadãos ilustres, tornaram-se heróis, extraídos da realidade, da história, do tempo; produtos embalados prontos para o consumo. Esse mesmo amigo chamou a atenção para o fato de que as pessoas e a imprensa daqui do Brasil deu demasiada atenção para os mineiros enquanto há pessoas ao nosso redor que sofrem todas as privações possíveis, que morrem ao nosso lado e pouco são notadas ou “noticiadas”. Com isso eu concordo. Há muito tempo temos vocação para sermos “caridosos”... com os outros. Caridade burguesa, desde que os alvos estejam longe de nós, não é verdade? Isso seria tema para uma outra conversa, um outro texto.

Tudo isso, a imagem do presidente e as imagens da imprensa, ajudam a manter a ignorância de grande parte da população para a situação dos mineiros chilenos, brasileiros, argentinos, ou de onde for. O descaso das autoridades e a exploração da classe mineira geraram essa situação. As condições de trabalho desses profissionais costumam ser desumanas. Outros tantos mineiros morreram no Chile nesse ano de 2010 (Diário Liberdade), e há vinte e sete anos, durante a ditadura de Pinochet, no mesmo local, dezesseis mineiros foram assassinados pelas forças do ditador (Flecheira Libertária 179). Apesar de pelo menos um mineiro considerar que ele e seus companheiros não são heróis, mas vítimas, já há especulações sobre um possível filme hollywoodiano sobre o caso.

Por essa e por outras razões sigo desconfiando da grande mídia e do esperto presidente chileno...

Dr. Bogóloff

Nota da "Redação" - Algumas outras notícias sobre os mineiros:
Pimenta Negra
Diário Liberdade
Terra

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Centro de Cultura Social - Novembro/Dezembro 2010

06/11 Sábado - 16h
“Foucault e a potência da retórica”, com Nildo Avelino (Doutor em Ciência Política e integrante do CCS).

27/11 Sábado - 16h
Lançamento: Malatesta. Biografia ilustrada de um símbolo do anarquismo italiano. Desenhos de Fabio Santin, texto de Elis Fraccaro, posfácio de Nildo Avelino. Tradução de Maria Ling e Nildo Avelino. Editora Robson Achiamé [21x28cm - 106p].

04/12 Sábado - 16h
Leitura Dramática, “As Criadas” de Jean Genet. Direção de Alberto Centurião (Dramaturgo, ator e diretor de teatro, integrante do CCS).

Centro de Cultura Social
Rua General Jardim, 253 Sala 22 (próximo ao metrô República)
São Paulo

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Feira do Livro Anarquista em Porto Alegre - Novembro 2010


Nos dias 5, 6 e 7 de novembro ocorrerá uma feira do livro anarquista na capital do Rio Grande do Sul.

"Grupos como a editora Deriva, Imaginário, Imprensa Marginal, Antena Negra, Ação Antisexista, Federação Anarquista Gaúcha, entre outros coletivos e editoras, estarão participando e organizando a 1ª Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre, nos dias 5, 6 e 7 de novembro, no Espaço Libertário Moinho Negro, rua Marcilio Dias, 1463. Na programação conversas em torno dos temas como "Anarquismo e Geografia", "Anarcologia e Protopia", "Feminismo e Anarquismo", lançamento de livros, filmes, exposições, oficinas, comida, confraternização...

A programação completa pode vista aqui:
http://flapoa.deriva.com.br/"

Fonte: http://www.ainfos.ca/pt/ainfos04674.html

El Surco 20 - Outubro 2010

Já se encontra disponível num sítio temporário a folha anarquista chilena El Surco.
O endereço da página temporária é http://srhostil.org/elsurco.

Para ler a vigésima edição do periódico clique aqui!

O conteúdo?
Editorial
Fachada y Fantasmagoría, adjetivos ausentes en cierta celebración
Artículos
Ecuador: Contra todo golpe de Estado (incluso los fingidos) • Al margen de la huelga de hambre, En torno a la batalla por los conceptos de terrorismo y violencia • La práctica del Rodeo chileno: Tortura como costumbre, Crueldad como deporte • Imprecación al Bicentenario y al orden establecido • El 11 de septiembre y los ataques contra la prensa • América Latina y la Expansión de Europa (A propósito del 12 de octubre) • Palabras y acciones que abrazan a la distancia, Situación de los/as compañeros/as secuestrados/as por el Estado • Reseña: “El ABC del Comunismo Libertario” • Breves: Axel Osorio nuevamente en la calle • Asel Luzarraga, libre y lejos • Y Más...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

IX Expressões Anarquistas 2010

Infelizmente não estou em São Paulo para participar do IX Expressões Anarquistas, evento que me chamou a atenção pela proposta e organização.
Segue abaixo o cartaz do evento que começou hoje (11/10) e está previsto para durar até amanhã (12/10).


O endereço é Rua Cerqueira Cesar, 185 - Santo Amaro - São Paulo.

Programação detalhada em http://www.ainfos.ca/ainfos20011.html
Evento organizado pela FOSP-COB.
http://cob-ait.net
http://fosp.anarkio.net

sábado, 9 de outubro de 2010

Palestra - Anarquismo e Sindicalismo na África do Sul - 10/10

Com muito atraso, novamente, divulgo a palestra sobre o movimento Anarquista e o sindicalismo revolucionário na África do Sul.
O evento acontecerá amanhã (domingo - 10/10), 16h, no Espaço Ay Carmela, em São Paulo.

Rua das Carmelitas, 140, Metrô Sé
(paralela à Rua do Carmo, travessa da Rua Tabatinguera)
Telefone: 3104 4330

Organização: Federação Anarquista de São Paulo (FASP)
http://www.anarquismosp.org

Fonte: A-Infos

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Por que os Anarquistas não votam? - Élisée Reclus

Segue abaixo, mais um texto a cerca do voto. Desta vez, é do geógrafo francês Elisée Reclus. Fonte: http://www.culturabrasil.pro.br/reclus.htm

Por que os anarquistas não votam?
Elisée Reclus
Tradução de Mario Bresighello


TUDO o que pode ser dito a respeito do sufrágio pode ser resumido em uma frase:

Votar significa abrir mão do próprio poder.

Eleger um senhor, ou muitos senhores, seja por longo ou curto prazo, significa entregar a uma outra pessoa a própria liberdade.

Chamado monarca absoluto, rei constitucional ou simplesmente primeiro ministro, o candidato que levamos ao trono, ao gabinete ou ao parlamento sempre será o nosso senhor. São pessoas que colocamos "acima" de todas as leis, já que são elas que as fazem, cabendo-lhes, nesta condição, a tarefa de verificar se estão sendo obedecidas.

Votar é uma idiotice.

É tão tolo quanto acreditar que os homens comuns como nós, sejam capazes, de uma hora para outra, num piscar de olhos, de adquirir todo o conhecimento e a compreensão a respeito de tudo. E é exatamente isso que acontece. As pessoas que elegemos são obrigadas a legislar a respeito de tudo o que se passa na face da terra: como uma caixa de fósforos deve ou não ser feita, ou mesmo se o país deve ou não guerrear; como melhorar a agricultura, ou qual deve ser a melhor maneira para matar alguns árabes ou negros. É muito provável que se acredite que a inteligência destas pessoas cresça na mesma proporção em que aumenta a variedade dos assuntos com os quais elas são obrigadas a tratar.

Porém, a história e a experiência mostram-nos o contrário.

O poder exerce uma influência enlouquecedora sobre quem o detém e os parlamentos só disseminam a infelicidade.

Nas assembléias acaba sempre prevalecendo a vontade daqueles que estão, moral e intelectualmente, abaixo da média.

Votar significa formar traidores, fomentar o pior tipo de deslealdade.

Certamente os eleitores acreditam na honestidade dos candidatos e isto perdura enquanto durar o fervor e a paixão pela disputa.

Todo dia tem seu amanhã. Da mesma forma que as condições se modificam, o homem também se modifica. Hoje seu candidato se curva à sua presença; amanhã ele o esnoba. Aquele que vivia pedindo votos, transforma-se em seu senhor.

Como pode um trabalhador, que você colocou na classe dirigente, ser o mesmo que era antes já que agora ele fala de igual para igual com os opressores? Repare na subserviência tão evidente em cada um deles depois que visitam um importante industrial, ou mesmo o Rei em sua ante-sala na corte!

A atmosfera do governo não é de harmonia, mas de corrupção. Se um de nós for enviado para um lugar tão sujo, não será surpreendente regressarmos em condições deploráveis.

Por isso, não abandone sua liberdade.

Não vote!

Em vez de incumbir os outros pela defesa de seus próprios interesses, decida-se. Em vez de tentar escolher mentores que guiem suas ações futuras, seja seu próprio condutor. E faça isso agora! Homens convictos não esperam muito por uma oportunidade.

Colocar nos ombros dos outros a responsabilidade pelas suas ações é covardia.

Não vote!

Bakunin e Malatesta e o voto e o sistema eleitoral...



Durante essa semana senti a necessidade de divulgar dois textos de grandes nomes do Anarquismo sobre o voto popular e as eleições; Bakunin e Malatesta. O primeiro, “A ilusão do sufrágio universal”, foi escrito por Bakunin e continua atual, apesar de ter sido escrito na Suíça há cerca de 150 anos. Para ler o texto integral clique aqui; abaixo segue alguns trechos do texto:

Toda decepção com o sistema representativo está na ilusão de que um governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular deve e pode representar a verdadeira vontade do povo. Instintiva e inevitavelmente, o povo espera duas coisas: a maior prosperidade possível combinada com a maior liberdade de movimento e de ação. Isto significa a melhor organização dos interesses econômicos populares, e a completa ausência de qualquer organização política ou de poder, já que toda organização política se destina à negação da liberdade. Estes são os desejos básicos do povo. Os instintos dos governantes, sejam legisladores ou executores das leis, são diametricamente opostos por estarem numa posição excepcional.
[...]
Quem fala de poder político, fala de dominação.
[...]
É verdade que, em dia de eleição, mesmo a burguesia mais orgulhosa, se tiver ambição política, deve curvar-se diante de sua Majestade, a Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho, e a burguesia, a seus lucrativos negócios e às intrigas políticas. Não se encontram e não se reconhecem mais. [...]

Desconheço o autor da tradução e notei alguns erros na transcrição. Não quero, desta forma, julgar o trabalho de ninguém, mas quero deixar claro que é importante que as idéias sejam expostas de forma clara e até certo ponto de acordo com as normas gramaticais. É necessário que sejamos levados a sério.

O outro texto do qual selecionei alguns trechos é “A política parlamentar no movimento socialista”, de Errico Malatesta, que também fala da farsa da representatividade política. O artigo de Malatesta apesar de ser maior que o do Bakunin é um pouco mais datado, por conter mais informações no texto sobre a o contexto do autor.
Encontrei neste artigo, os mesmos problemas que no do Bakunin, com relação aos erros de transcrição. Para ler o texto integral, clique aqui. Eis alguns trechos interessantes:


O Sufrágio Universal não é um instrumento de emancipação social, mas um meio de submissão ao Capital.
[...]
Há países onde o sufrágio universal existe e funciona há muito tempo; há outros que viram estabelecer, depois abolir, em seguida restabelecer, depois abolir, em seguida restabelecer novamente, alternadamente, o sufrágio universal; e as condições morais e materiais das massas permaneceram sempre as mesmas...
[...] o sufrágio universal nunca e em nenhum lugar serviu para melhorar o destino dos trabalhadores.
[...]
Tanto nas repúblicas quanto nas monarquias onde ele existe, as Câmaras são compostas de proprietários, advogados e outros privilegiados, assim como nos países onde o sufrágio é mais ou menos restrito às classes possuidoras e cultas. E nestes países como nos outros, as leis que as Câmaras fazem, servem apenas para ratificar a exploração e defender os exploradores.
[...]
Na teoria, o sufrágio universal é o direito da maioria de impor sua vontade à minoria. Este pretenso direito é uma injustiça porque a personalidade, a liberdade e o bem-estar de um único homem são tão dignos de respeito, tão sagrados quanto aqueles de toda a Humanidade.
Aliás, não há nenhuma razão para crer que a verdade, a justiça, o interesse comum encontrem-se sempre do lado da maioria: os fatos provaram, ao contrário, que é geralmente o inverso... Se todos os homens, exceto um, estivessem satisfeitos de ser escravos e de se submeter, sem necessidades naturais, a todos os tipos de sofrimentos, esse teria razão de se revoltar e de exigir liberdade e bem-estar. Os votos, o número, não decidem nada, nenhum direito se perde, nenhum direito se cria por eles.
Uma sociedade igualitária deve estar fundada sobre o livre e unânime acordo de todos os seus membros. Mesmo numa sociedade socialista, na qual tivesse coompletamente desaparecido a opressão e a exploração do homem e onde o princípio de solidariedade regesse todas as relações humanas, é verdade que poderia acontecer, e aconteceria com toda a certeza, que se produzissem casos onde o recurso ao voto seria necessário, ou pelo menos cômodo. Esses casos se tornariam cada vez mais raros na medida em que a ciência da sociedade descobrisse e tornasse evidentes as soluções que corresponderiam exatamente aos diferentes problemas da vida coletiva.
Mas enfim, haverá sempre casos em que diversas soluções se apresentarão e onde será necessário de se limitar a um expediente mais ou menos arbitrário, sem que seja possível ou julgado oportuno dividir-se em tantas frações quanto existam soluções preferidas. O mais rápido, nesses casos, é que a minoria se adapte ao desejo da maioria. Bem, votar-se-á então, provavelmente; mas num caso como desse tipo, o voto não é um princípio, ele não é um direito nem um dever mas um pacto, uma convenção entre associados!
[...]
Com efeito, cada eleitor só nomeia um deputado, ou um pequeno número de deputados sobre várias centenas que compõem habitualmente uma Assembléia. É verdade que, mesmo quando os eleitores vêem seu próprio candidato ser eleito, sua vontade, que durante as eleições já não contava praticamente nada, seria representada por um único deputado, que, ele próprio, tem um papel mínimo na Câmara. A Câmara, tomada em seu conjunto, não representa de modo algum a maioria dos eleitores. Cada um dos deputados é eleito de um certo número de leitores mas o corpo eleitoral, enquanto totalidade, não é representado.
Assim, ocorre que fatos que concernem, por exemplo, tal localidade ou tal corporação devem ser julgados por uma assembléia de pessoas estranhas a essa localidade ou a essa corporação, ignorantes ou indiferentes em relação a seus interesses e onde um único, ou um pequeno número, pode, com maior ou menor razão, representar um mandato recebido dos próprios interessados. [...]
[...]
Enquanto os deputados, distantes do povo, desinteressados de suas necessidades, impotentes em satisfazê-las mesmo que quisessem, acabam se ocupando apenas da consolidação e do crescimento de seu próprio poder, da obtenção constante de novos subsídios e, finalmente, da liberação de toda dependência para com o povo [...]

Que dizer das condições reais nas quais o sufrágio universal é exercido numa sociedade onde a maioria da população, atormentada pela miséria e embrutecida pela ignorância e pela superstição vê sua existência depender de uma pequena minoria que detém a riqueza e o poder? Em regra geral, o eleitor pobre não é e não pode ser capaz de votar de modo consciente e livre, votar como quiser.
[...]
É certo que os camponeses e os operários, mesmo os menos esclarecidos, sabem mais do que os doutores em economia política quando se trata de seus interesses diretos, das coisas que eles vêem e tocam, de se seu trabalho, de sua casa, de sua vida quotidiana. Eles podem facilmente ter uma opinião sobre as questões que lhes concernem, quando elas são apresentadas de modo simples e natural. Eles saberiam dizer sim ou não se querem que os patrões, sem sair de suas cadeiras, retirem deles a melhor parte do fruto de seu trabalho. Eles saberiam dizer se querem ou não ser soldados. Saberiam como empregar a riqueza de sua comuna ou de sua nação se eles possuíssem todas as informações necessárias sobre os produtos disponíveis, sobre a capacidade de produção e sobre as necessidades de todos os seus concidadãos. Saberiam como ensinar uma profissão aos filhos... E tudo aquilo que não soubessem ou não compreendessem, logo aprenderiam se tivessem que se ocupar eles próprios de tudo isso, para responder a uma necessidade prática.
Mas se os problemas que lhes apresentam não os concernem, ou se são complicados por interesses que lhes são estranhos a tal ponto que eles não possam mais reconhecê-los; se as coisas mais simples são obscurecidas por uma terminologia técnica que faz da política uma ciência oculta; se eles não têm o tempo de se informar e de refletir, e se não se sentem motivados a fazer porque sabem muito bem que não cabe a eles decidir e que há os que pensam por eles, nesse caso então seu voto será inconsciente, como é geralmente o caso.