O circo midiático criado em torno do resgate dos trinta e três mineiros soterrados no Chile e a atuação do presidente Sebastián Piñera estão dando o que falar. Se por um lado, pude observar um verdadeiro sentimento de solidariedade em muitas pessoas que se sentiram envolvidas com o caso, por outro notei certa atitude, que muito me incomodou, por parte da grande mídia e do presidente chileno. A primeira se aproveitou da situação e transformou o sofrimento de mineiros e famílias em show, em mercadoria, aliás, como faz com tudo o que toca. O segundo, o sr. Piñera, montou um palanque em plena mina San José e deitou a fazer campanha política e posar de "salvador da pátria". Articulações políticas a parte, creio que qualquer político em seu lugar teria lançado mão de todos os esforços para resgatar mineiros presos a mais de 600 metros de profundidade em mais ou menos dois meses. E ainda mais com toda a imprensa mundial em cima.
Se a imprensa vendeu a história, o presidente fez seu marketing, e parece que de agora em diante usará o episódio como trunfo eleitoral. Apesar de Piñera ter assumido em março deste ano, não acredito que seja muito sábio se vangloriar por algo que seja fruto de incompetência por parte das autoridades, sendo ele quem ocupa o cargo de chefe suprema de toda autoridade chilena. Se há uma autoridade constituída, ela deve tomar providências para que fatos como esse não cheguem a ocorrer.
Em uma conversa de bar, dentre vários assuntos, um colega falava a respeito dos mineiros, já um pouco embriagado. Ele dizia que tudo aquilo foi um show e que para o "sistema" os mineiros não tinham (têm) importância. Não faziam diferença. Acho que ele não refletiu que para esse "sistema" tudo pode ser um motivo para se solidificar, toda ocasião pode, e deve, ser usada para concretizar as estruturas sócio-econômicas e culturais vigentes. Portanto, apesar de não serem cidadãos ilustres, tornaram-se heróis, extraídos da realidade, da história, do tempo; produtos embalados prontos para o consumo. Esse mesmo amigo chamou a atenção para o fato de que as pessoas e a imprensa daqui do Brasil deu demasiada atenção para os mineiros enquanto há pessoas ao nosso redor que sofrem todas as privações possíveis, que morrem ao nosso lado e pouco são notadas ou “noticiadas”. Com isso eu concordo. Há muito tempo temos vocação para sermos “caridosos”... com os outros. Caridade burguesa, desde que os alvos estejam longe de nós, não é verdade? Isso seria tema para uma outra conversa, um outro texto.
Tudo isso, a imagem do presidente e as imagens da imprensa, ajudam a manter a ignorância de grande parte da população para a situação dos mineiros chilenos, brasileiros, argentinos, ou de onde for. O descaso das autoridades e a exploração da classe mineira geraram essa situação. As condições de trabalho desses profissionais costumam ser desumanas. Outros tantos mineiros morreram no Chile nesse ano de 2010 (Diário Liberdade), e há vinte e sete anos, durante a ditadura de Pinochet, no mesmo local, dezesseis mineiros foram assassinados pelas forças do ditador (Flecheira Libertária 179). Apesar de pelo menos um mineiro considerar que ele e seus companheiros não são heróis, mas vítimas, já há especulações sobre um possível filme hollywoodiano sobre o caso.
Por essa e por outras razões sigo desconfiando da grande mídia e do esperto presidente chileno...
Dr. Bogóloff
Nota da "Redação" - Algumas outras notícias sobre os mineiros:
Pimenta Negra
Diário Liberdade
Terra
Se a imprensa vendeu a história, o presidente fez seu marketing, e parece que de agora em diante usará o episódio como trunfo eleitoral. Apesar de Piñera ter assumido em março deste ano, não acredito que seja muito sábio se vangloriar por algo que seja fruto de incompetência por parte das autoridades, sendo ele quem ocupa o cargo de chefe suprema de toda autoridade chilena. Se há uma autoridade constituída, ela deve tomar providências para que fatos como esse não cheguem a ocorrer.
Em uma conversa de bar, dentre vários assuntos, um colega falava a respeito dos mineiros, já um pouco embriagado. Ele dizia que tudo aquilo foi um show e que para o "sistema" os mineiros não tinham (têm) importância. Não faziam diferença. Acho que ele não refletiu que para esse "sistema" tudo pode ser um motivo para se solidificar, toda ocasião pode, e deve, ser usada para concretizar as estruturas sócio-econômicas e culturais vigentes. Portanto, apesar de não serem cidadãos ilustres, tornaram-se heróis, extraídos da realidade, da história, do tempo; produtos embalados prontos para o consumo. Esse mesmo amigo chamou a atenção para o fato de que as pessoas e a imprensa daqui do Brasil deu demasiada atenção para os mineiros enquanto há pessoas ao nosso redor que sofrem todas as privações possíveis, que morrem ao nosso lado e pouco são notadas ou “noticiadas”. Com isso eu concordo. Há muito tempo temos vocação para sermos “caridosos”... com os outros. Caridade burguesa, desde que os alvos estejam longe de nós, não é verdade? Isso seria tema para uma outra conversa, um outro texto.
Tudo isso, a imagem do presidente e as imagens da imprensa, ajudam a manter a ignorância de grande parte da população para a situação dos mineiros chilenos, brasileiros, argentinos, ou de onde for. O descaso das autoridades e a exploração da classe mineira geraram essa situação. As condições de trabalho desses profissionais costumam ser desumanas. Outros tantos mineiros morreram no Chile nesse ano de 2010 (Diário Liberdade), e há vinte e sete anos, durante a ditadura de Pinochet, no mesmo local, dezesseis mineiros foram assassinados pelas forças do ditador (Flecheira Libertária 179). Apesar de pelo menos um mineiro considerar que ele e seus companheiros não são heróis, mas vítimas, já há especulações sobre um possível filme hollywoodiano sobre o caso.
Por essa e por outras razões sigo desconfiando da grande mídia e do esperto presidente chileno...
Dr. Bogóloff
Nota da "Redação" - Algumas outras notícias sobre os mineiros:
Pimenta Negra
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