quarta-feira, 21 de setembro de 2011

2ª Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre - RS

Foto da 1ª Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre

Nos dias 11, 12, 13 e 14 de Novembro, vai acontecer em Porto Alegre (RS) a tão esperada 2ª Feira do Livro Anarquista!
Estamos construindo a programação da feira, e para isto estamos fazendo esse chamado aberto para todo/as que estejam interessado/as em ajudar nesta construção. Você pode se envolver de três jeitos:

• Propondo algum bate-papo, palestra, oficina ou o que mais quiser incluir na programação da feira;
• Colaborar em alguma das comissões de organização da feira, que são: alimentação, infraestrutura, bebidas/bar e a ciranda, que cuidará das crianças do/as participantes do evento;
• Trazendo materiais para exposição.

Então se alguém que virá quiser participar ativamente na organização do evento, pedimos que mande um e-mail para flapoa@libertar.se e coloque no assunto: “colaborar”. Não esqueça de descrever a sua proposta de atividade e/ou a comissão com a qual quer contribuir, para podermos já nos organizar com o número de voluntário/as.

Também quem for vir com material para exposição, e necessitar bancas, também pedimos para que mandem e-mail requisitando-as para que possamos providenciá-las.

Para o/as compas que virão de outras cidades, estaremos disponibilizando lugares para ficarem durante os dias da feira, mas para isso é necessário que enviem com antecedência um e-mail para flapoa@libertar.se e coloque no assunto: “alojamento”. Iremos pedir para os que precisarem de estadia uma contribuição de 10 reais para cobrir alguns dos custos do evento. Lembramos da necessidade de trazerem colchonetes e cobertas. Também vai ter uma área fora que quem tiver barraca vai poder acampar.

Teremos uma comissão para cuidar das crianças que forem vir para o evento enquanto os pais participam das atividades, inclusive desenvolvendo atividades próprias para elas. Portanto, na hora de se inscreverem, por favor também avisem se vem crianças junto, e a idade, para podermos preparar algo bacana.

No mais, fica o chamado para todo/as virem prestigiar o evento, que será marcado por bate-papos, oficinas, livros, filmes, contatos e amizades, enfim, vivências em geral que tanto contribuem para a nossa aproximação enquanto anarquistas.

Este ano também estará acontecendo, nas noites do evento, o 1° Festival de Música Anarquista da FlaPoA, que já conta com bandas de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e, claro, as bandas locais. Se você tem alguma banda e quiser tocar no evento, deixamos aberto o chamado para participarem! Também é só entrar em contato por e-mail!

Comissão de Organização¹ da 2ª Feira do Livro Anarquista

Mais infos: flapoa@libertar.se

[1] Fazemos reuniões abertas semanais de organização, quem quiser comparecer entrar em contato por e-mail.

Fonte: http://noticiasanarquistas.noblogs.org
Página do evento: http://flapoa.deriva.com.br/
Relato da 1ª Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre
Fotos da 1ª Feira...

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Lima Barreto - Leitura de Jornais

Em tempos de euforia gerada pelos eventos vindouros (Copa do Mundo, Olimpíadas), a racionalização dos gastos é ignorada. Que outra finalidade pode ter a verba pública senão a de locupletar aos digníssimos representantes do povo? Isso, no plano mais evidente da rapinagem. Fora dele, há a especulação imobiliária que vai traçando paisagens, adotando perspectivas qual um pintor naturalista e definindo onde cada um vive ou vai viver, aonde cada um anda ou vai andar, onde cada um dorme ou vai dormir. São muitos os problemas com os quais nos depararemos nessa longa caminhada de 5, 6 anos. Vem a calhar um texto barretiano. Lima Barreto (1881-1922), escritor para quem o significado importava mais do que as acrobacias fonéticas ou lingüísticas, publica o texto "Leitura de jornais" um ano antes de sua morte na antiga revista ilustrada Careta. Em 19 de março de 1921, sai o texto irônico que comparava a atitude de alguns brasileiros com a adotada na Argentina no que concerne ao gasto do dinheiro público, quando ainda se vivia uma acirrada disputa entre as capitais dos dois países para saber qual seria a mais moderna e européia. Os tempos eram outros, já os problemas... 


Leitura de Jornais


Afonso Henriques de Lima Barreto em 1919
Não há dúvida alguma que o embelezamento das cidades sobreleva as questões de higiene e de assistência que elas também reclamam. É isto que se tem visto em toda a parte, principalmente nas capitais de tiranos asiáticos, onde se erguem monumentos maravilhosos de mármore e ouro, de ônix e porcelana, de ouro e jaspe, em cidades que não têm água nem esgotos e o grosso da população habita choupanas miseráveis.

Essa regra geral das administrações asiáticas obedece a certo critério de origem divina, em que se estatui que o senhor e os senhores têm direito a tudo; e os restantes, no máximo, a vida, e são obrigados a pagar impostos para gáudio daqueles outros.

Mais ou menos, em obediência a essa regra, foi que se ergueram tantos monumentos célebres no mundo inteiro, desde o “Palácio do Serralho”, em Constantinopla, até o Taj-Mahal, de Agra, na Índia, com a moldura de uma cidade de miseráveis.

Com o advento da democracia nos países de origem europeia, especialmente no nosso, depois da proclamação da república, essa regra asiática tem sido mais ou menos obedecida, com o caráter cenográfico, que nos é próprio.

Ainda há dias, lendo os jornais desta cidade tive ocasião de verificar essa feição característica da nossa mentalidade administrativa.

O excelente O Jornal, nos primeiros dias deste mês, lamentava que a municipalidade ainda não houvesse levado a efeito, a construção de um stadium, no Leblon.

Reproduzia a planta respectiva que a edilidade, com grande menosprezo pelos interesses vitais do povo, tinha atirado ao pó dos arquivos. Lastima-se o redator da notícia assim: “Diante dessas informações perguntamos: Por que se abandonou assim um projeto sob todos os títulos grandioso, para se fazer a concessão de hoje, que tantos comentários vão provocando?”.

Não há dúvida alguma que tal abandono é motivo de lástima a mais profunda, porquanto já temos para realçar semelhantes grandiosos projetos dessa natureza, os magníficos repoussoirs da Favela, do Salgueiro, do Nheco e outros em muitos morros e colinas que são descritos por um jovem jornal desta cidade, O Dia, de 3 do corrente, desta maneira:
Encontram-se extensos aldeamentos de casas construídas com folhas de latas de gasolina, ripas de caixas de batata e caixões de automóveis. (...) Por essas barracas, que seria impossível de qualificar de casebres, porque nelas nenhum homem rico abrigaria o seu cão de estima, cobram-se de 30$ a 50$000 por mês e até mais.
Convém notar que essas maravilhas nada custaram à prefeitura, e, nem ao menos, exigem-lhe o trabalho de cobrar-lhes impostos ou dízimos quaisquer.

São puras criações de iniciativa particular que se mostra assim solícita para abrigar os pobres e dotar a cidade com essas curiosas construções, dignas de Hué ou de São Paulo de Luanda.

Buenos Aires, que não nos deixa dormir, tendo lá cousa semelhante, tratou de acabar com tão pitorescas excrescências. Que fez? Construiu pistas ou arenas de jogos atléticos? Não: construiu casas, conforme informa o último dos jornais citados, que ele descreve desta forma:
Essas casas, construídas com armações de madeira ou ferro, oferecem aos seus habitantes o melhor conforto, pois todas elas, como se pode verificar nos projetos do Senhor Ayerza, dispõem de ótimas acomodações, água corrente, banheiros, salas, luz e ventilação, enfim, tudo o que se torna necessário ao bem-estar dos moradores.
Está se vendo por aí que os nossos vizinhos não têm o espírito olímpico; mas, uma alma cheia de baixas e subalternas preocupações burguesas.

A nossa origem divina, ou melhor: a origem divina dos nossos dirigentes não lhes permite ter dessas cogitações práticas e comuns de casas para desafortunados.

Não seria possível que o sultão de Mossul fosse se preocupar com casas para o seu povo; mas, quando a bexiga irrompe, sabe ele da existência de uma plebe necessitada na sua capital, e, então, manda-a vacinar a toda pressa, sob pena de cortar a cabeça os recalcitrantes, com medo que a difusão da peste venha enfear as sultanas do seu mimo.

São essas as considerações que me vieram ao fazer a leitura, com intervalo de dias, de dous grandes jornais cariocas que já citei.

Por aí, vim a concluir que a nossa administração ainda se guia pela estética urbana dos rajás asiáticos e que, sob este aspecto, ela é absolutamente original nestas américas e talvez nas európicas.

Os seus arquivos, o que faz supor a descoberta do plumitivo do O Jornal, devem regurgitar de planos de prados, coliseus, frontões, boliches, teatros, palácios, etc. etc.

Entretanto, ela não presta atenção nos meios de enfear e emporcalhar mais a Favela, embora os seus propósitos de embelezamento de Copacabana e arredores peçam logicamente, de acordo com a sua doutrina calcutaense, a transformação daquele e outros morros que circundam a cidade, na cousa mais repugnante deste mundo...

A leitura dos jornais é sempre utilíssima, como já disse o outro.
L. B.
Careta 19-03-1921

A grafia de estrangeirismos foi mantida como aparece no original.