domingo, 26 de dezembro de 2010

IX ELAOPA - 22 a 24 de Janeiro em Jarinú-SP

Retirado de http://www.ainfos.ca/pt/ainfos04764.html

O ELAOPA surge em 2003, como um espaço alternativo ao Fórum Social Mundial (FSM), onde não participam partidos políticos, ONG's e nem representantes de governos; entidades estas, que diferem de nossa realidade e das intenções de nossas organizações. O ELAOPA pretende então, juntar, encontrar e articular a luta de organizações populares da América Latina, colocando-as como atoras à partir das suas necessidades, realidades e anseios.

Já participaram do ELAOPA diversos grupos/organizações: agrupações sindicais e sindicatos, coletivos culturais, muralistas, grupos de teatro, movimento de piqueteiros, desempregados/as, movimentos de luta pela terra, coletivos feministas, centros sociais, ateneus, organizações camponesas, ecologistas, coletivos em defesa dos direitos humanos, entidades estudantis.

Um dos principais eixos que sempre estão em nossos encontros tem sido a construção do poder popular, por uma perspectiva autônoma e de base, ou seja, desde baixo, capaz de resistir à opressão capitalista e criar alternativas de luta conjuntas, rompendo barreiras e fronteiras, a partir da solidariedade entre os/as companheiros/as.

O IX ELAOPA será realizado no Centro de Formação Campo Cidade do MST/Regional SP na cidade de Jarinú, Grande São Paulo, acesso pelo trem em Campo Limpo Paulista.

PARTICIPE e faça sua inscrição pelo site !!!!
http://www.elaopa.org

As inscrições poderão ser realizadas até 10/01/2011. Para cobrir os gastos de alimentação e infraestrutura do encontro estamos pedindo a contribuição de R$ 25,00
depositáveis em banco!!!! Importante citar também que as/os companheiras/os que estiverem fora do Brasil, poderão fazer sua contribuição na chegada.

Dúvidas pelo email:
ixelaopa@riseup.net

Solidariedad siempre!!!!!!

Comissão de Comunicação do IX ELAOPA

El Surco 22 - Dezembro 2010

A mais recente edição do periódico El Surco está disponível - http://srhostil.org/elsurco/elsurco22.pdf.
Editorial - ¿Reformar al Estado, humanizar el capital? No gracias…
Artigos - ¿Enseñanza pública y popular? ¡Auto educación carajo!; Todo lo que debes saber sobre el servicio militar obligatorio; Encrucijadas e ideas anarquistas: Mucho ruido y pocas nueces; dentre outros.

Vale a pena refletir o tema do editorial que trata de greves recentes no Chile (metrô e estudantes e professores de História). O que se tem alcançado com essas greves? Reformar o Estado e humanizar o capital?, como diz o título. O texto me lembrou a polêmica travada pela imprensa entre anarcossindicalistas e anarquistas durante a Greve Geral de 1917 em São Paulo.

Boa leitura!

sábado, 25 de dezembro de 2010

10 anos de CMI! e a alerta para a censura...

Retirado de http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/12/482910.shtml

10 anos! Uau! Um viva para todos/as nós! Como sempre, na data do nosso aniversário publicamos um editorial. Gostaríamos de falar sobre o que vem acontecendo dentro da rede Centro de Mídia Independente Brasil. Contar sobre o nosso Encontro Nacional, que aconteceu em Novembro com mais de 50 voluntários/as de todo o Brasil; literalmente falando, tínhamos gente de todas as regiões do país. Contar sobre o nosso projeto de um site novo e outras plataformas em que estamos trabalhando; onde por exemplo, queremos expandir a participação da comunidade que usa o CMI, criando formas de colaboração com a manutenção do site, etc. Falar ainda que o CMI recebe entre de 2 a 4 milhões de visitas por mês.

Temos muitas outras coisas boas para falar sobre o CMI neste editorial, mas resolvemos dedicá-lo a uma denúncia. O Centro de Mídia Independente vem sofrendo CENSURA. O caso é muito grave e importante pelos precedentes que abre, e precisa ser mais bem conhecido por todos, para gerar toda forma de apoio possível.

Resumidamente, provedoras de Internet estão bloqueando o acesso de seus clientes ao domínio midiaindependente.org. Mais especificamente: a Claro argumenta que uma sentença judicial está forçando-a a bloquear o acesso de seus usuários ao CMI. , Suspeitamos que seja esta a mesma causa do bloqueio feito pela Net e pela Embratel ao CMI. Houve relato de bloqueio feito pela TIM, mas não tivemos mais informações sobre esta provedora.

Vamos expor todas as informações de que dispomos, então pedimos que leiam com atenção a descrição dos fatos sobre a CENSURA que o CMI vem sofrendo desde Abril deste ano. Organizamos tudo na forma de "perguntas e respostas" para facilitar. Clique no link abaixo, informe-se, divulgue e apóie nossa luta contra a censura!

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/12/482910.shtml

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O ceguinho podólatra Glauco Mattoso, um livre-pensador


Já se vão alguns anos desde a primeira vez que li algo escrito por Glauco Mattoso (1951). Suas colunas na revista (posso dizer petista?) Caros Amigos ou seu livro iniciático à poesia marginal da época da Ditadura (O que é poesia marginal), ambos foram lidos, por mim, há pelo menos cinco anos. Faz mais tempo ainda desde a última vez que o vi na TV, no extinto programa Musikaos da claudicante TV Cultura.

Li recentemente muitos sonetos do Glauco Mattoso (pseudônimo que alude ao mesmo tempo à doença congênita glaucoma e ao poeta barroco Gregório de Matos) em seu sítio pessoal, nas páginas que reune parte da obra poética, e em sua coluna no Portal Cronópios.

Além da tara por pés e solas, e sua postura de eterno fudido (em todos os sentidos), ele também se posiciona com relação à política e aos políticos. Dentre outras coisas, é do que tratam os sonetos abaixo:

#17 Sádico [1999]

Legal é ver político morrendo
de câncer, quer na próstata ou no reto,
e, p'ra que meu prazer seja completo,
tenha um tumor na língua como adendo.

Se for ministro, então, não me arrependo
de ser-lhe muito mais que um desafeto,
rogar-lhe morte igual à que um inseto
na mão da molecada vai sofrendo.

Mas o melhor de tudo é o presidente
ser desmoralizado na risada
por quem faz poesia como a gente.

Ele nos fode a cada canetada,
mas eu, usando só o poder da mente,
espeto-lhe o loló com minha espada.


#18 MASOQUISTA [1999]

Político só quer nos ver morrendo
na merda, ao deus-dará, sem voz, sem teto.
Divertem-se inventando outro projeto
de imposto que lhes renda um dividendo.

São tão filhos da puta que só vendo,
capazes de criar até decreto
que obrigue o pobre, o cego, o analfabeto
a dar mais do que vinha recebendo.

Se a coisa continua nesse pé,
acabo transformado no engraxate
dum senador qualquer, dum zé mané.

Vou ser levado, a menos que me mate,
à torpe obrigação de amar chulé,
lamber feito cachorro que não late.


#25 POLÍTICO [1999]

A esquerda quer mudança no regime:
trocar todas as moscas sobre o troço;
mais gente repartindo o mesmo almoço,
p'ra ver se a humanidade se redime.

A situação não quer mexer no time:
o jogo da direita é o mesmo osso,
o mesmo cão, e nada de alvoroço,
mantendo o status quo que nos oprime.

Um cego como eu, politizado,
consciente de não ser tão incapaz
que não possa escolher qual é meu lado;

P'ra mim, desde que seja dum rapaz
o pé pelo qual quero ser pisado,
direito como esquerdo, tanto faz.



O gosto musical do poeta chama a atenção; rockabilly, punk rock e outras vertentes do rock, além do ska fazem parte de suas preferências; as quais compartilho. Há poemas que mencionam (julgam) bandas como Sex Pistols, The Clash, Buzzcocks, Dead Kennedys, Exploited, Ramones, Stiff Little Fingers, Sham 69, Stray Cats, The Macc Lads, The Specials, Toy Dolls e outras tantas. Em vez de ficar no lugar comum da classe letrada, a MPB, o bardo enaltece o rock'n'roll sem frescura.

A preferência musical é apenas uma das facetas dessacralizadoras de Glauco, que já foi chamado de marginal, experimental e maldito; rótulos que prontamente assumiu.


#43 VANGUARDISTA [1999]

Vanguarda é classicismo, e a prova disso
está nos manifestos: em que pese
o mau comportamento, viram tese,
tratados como o texto mais castiço.

Não nego que elas prestam bom serviço,
mostrando algo de novo que se preze.
O mal é quando espalham catequese,
querendo impor que o resto está cediço.

Aqui nem há razão p'ra que me queixe:
Quer seja ou não vanguarda ou velha guarda,
não deixo de vender meu mixo peixe.

Não viso academia, chá nem farda;
só peço a cada membro que me deixe
lamber seu pé com minha língua barda...


#44 MALDITO [1999]

O veio subterrâneo e fescenino
do qual Zé Paulo Paes foi bandeirante
tem repertório altíssimo e abundante
que vai de Marcial até Aretino.

Na língua portuguesa já declino
três nomes do listão mais importante:
Bocage, Lagartixa e o infamante
Gregório, véi de guerra, esse menino!

Nem penso em me incluir nessa caterva,
até porque meu vício é bem menor.
Quem for mais perspicaz na certa observa:

Aquilo que o Mattoso faz melhor
é só o que a sorte cega lhe reserva:
tirar leite de pé, lamber suor.


#45 MARGINAL [1999]

Assim como o menor abandonado
converte-se bem cedo no infrator,
também na poesia há muito autor
rebelde só porque ficou de lado.

Os jovens querem dar o seu recado
do modo mais avesso e transgressor,
até chegar num ponto em que o louvor
consagra todo o coro amotinado.

O fato é que o legítimo indigente
é quem fica isolado na conversa
enquanto as outras partes fazem frente.

Me sinto assim. A turma já dispersa
ao ver que meu assunto é o pé, somente.
O tema é marginal, e vice-versa.


Notem que no soneto “Maldito”, o sujeito-lírico se insere numa tradição que conta com Aretino, Marcial, Gregório de Matos, Bocage e Lagartixa (Laurindo Rabelo). Essa tradição seria o veio subterrâneo da literatura, a literatura fescenina.

As informações abaixo, sobre o poeta Mattoso e sua arte, foram retiradas do já mencionado sítio pessoal.

Glauco Mattoso é poeta, ficcionista, ensaísta e articulista em diversas mídias. Pseudônimo de Pedro José Ferreira da Silva (paulistano de 1951), o nome artístico trocadilha com "glaucomatoso" (portador de glaucoma, doença congênita que lhe acarretou perda progressiva da visão, até a cegueira total em 1995), além de aludir a Gregório de Matos, de quem é herdeiro na sátira política e na crítica de costumes.

Após cursar biblioteconomia (na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, bacharelando-se em 1972) e letras vernáculas (na USP, sem concluir), ainda nos anos 1970 participou, entre os chamados "poetas marginais", da resistência cultural à ditadura militar, época em que, residindo temporariamente no Rio, editou o fanzine poético-panfletário "Jornal Dobrabil" (trocadilho com o "Jornal do Brasil" e com o formato dobrável do folheto satírico) e começou a colaborar em diversos órgãos da imprensa alternativa, como "Lampião" (tablóide gay) e "Pasquim" (tablóide humorístico), além de periódicos literários como o "Suplemento da Tribuna" e as revistas "Escrita", "Inéditos" e "Ficção".

Durante a década de 1980 e o início dos anos 1990 continuou militando no periodismo contracultural, desde a HQ (gibis "Chiclete com Banana", "Tralha", "Mil Perigos" e outros, mas não deve ser confundido com o cartunista Glauco Villas Boas) até a música (revistas "Somtrês", "Top Rock"), além de colaborar na grande imprensa (crítica literária no "Jornal da Tarde", ensaios na "Status" e na "Around"), e publicou vários volumes de poesia e prosa.

Na década de 1990, com a perda da visão, abandonou a criação de cunho gráfico (poesia concreta, quadrinhos) para dedicar-se à letra de música e à produção fonográfica, associado ao selo independente Rotten Records.

Com o advento da internet e da computação sonora, voltou, na virada do século, a produzir poesia escrita e textos virtuais, seja em livros, seja em seu sítio pessoal ou em diversas revistas eletrônicas ("A Arte da Palavra", "Blocos On Line", "Fraude", "Velotrol", "Capitu", "Cronópios", "GLX") e impressas ("Caros Amigos", "Outracoisa", "G Magazine", "Discutindo Literatura"). Jamais deixou, entretanto, de explorar temas polêmicos, transgressivos ou politicamente incorretos (violência, repugnância, humilhação, discriminação) que lhe alimentam a reputação de "poeta maldito" e lhe inscrevem o nome na linhagem dos autores fesceninos e submundanos, como Bocage, Aretino, Apollinaire, Sade ou Genet.

Em colaboração com o professor Jorge Schwartz (da USP) traduziu a obra inaugural de Jorge Luis Borges, trabalho que lhes valeu um prêmio Jabuti em 1999. Nesse terreno bilíngüe GM tem-se dedicado a outros autores latino-americanos, como Salvador Novo e Severo Sarduy, e tem sido traduzido por colegas argentinos, mexicanos e chilenos.

Em vídeo, GM foi entrevistado ou convidado, entre outros, dos programas "Metrópolis", "Vitrine", "Fanzine", "Provocações", "Entrelinhas", "Letra Livre", "Almanaque Educação", "Manos e Minas", "Matéria Pública" e "Musikaos" (TV Cultura), "Sem Frescura" e "Palavrão" (Canal Brasil), "Circular" e "Saca-Rolha" (Rede 21), "Todo seu" (TV Gazeta), "Saia Justa" (Rede Mulher), "Literatura" (redes SENAC e Educativa) e "Jogo de Idéias" (Itaú Cultural/TV-PUC).

Segundo Pedro Ulysses Campos, "A poesia de Glauco Mattoso pode ser dividida, cronologica e formalmente, em duas fases distintas: a primeira seria chamada de FASE VISUAL, enquanto o poeta praticava um experimentalismo paródico de diversas tendências contemporâneas, desde o modernismo até o underground, passando, principalmente, pelo concretismo, o que privilegiava o aspecto gráfico do poema; a segunda fase seria chamada de FASE CEGA, quando o autor, já privado da visão, abandona os processos artesanais, tais como o concretismo dactilográfico, e passa a compor sonetos e glosas, onde o rigor da métrica, da rima e do ritmo funciona como alicerce mnemônico para uma releitura dos velhos temas mattosianos (a fealdade, a sujidade, a maldade, o vício, o trauma, o estigma), reaproveitando técnicas barrocas e concretistas (paronomásia, aliteração, eufonia e cacofonia dos ecos verbais) de mistura com o calão e o coloquialismo que sempre caracterizaram o estilo híbrido do autor. A fase visual vai da década de 1970 até o final dos anos 1980; a fase cega abre-se em 1999, com a publicação dos primeiros livros de sonetos."


Para encerrar, cabe aqui informar que a partir de Janeiro de 2009, o autor tem escrito conforme as normas ortográficas de dois séculos atrás. Para ler seus textos escritos desta forma, basta acessar sua coluna no Portal Cronópios e seus últimos sonetos.

Fiquem com mais dois sonetos do ceguinho.

#190 REDUNDANTE [1999]

Pediram-me um escândalo, e é p'ra já.
Malversação de fundos? Nada disso.
O seio da modelo, que é postiço,
também já não excita a língua má.

A droga nas escolas? Ninguém dá
a mínima importância ao desserviço.
Seqüestro de empresário? Algum sumiço?
Remédio adulterado? Quá! Quá! Quá!

A fraude eleitoral virou rotina.
As contas no exterior não causam pasmo.
Ninguém estranha o cheiro da latrina.

Até Matusalém já tem orgasmo!
Só resta a comentar, em cada esquina,
que o cego é chupa-rola... Um pleonasmo!


#2349 PARA UM IMAGINÁRIO MORTUÁRIO (III) [16/3/2008]

E do Municipal? Muito se narra,
mas esta me contaram que é verdade.
O prédio, certa noite, um punk invade,
disposto a ver fantasma até na marra!

Silêncio. Tudo escuro. A quem por farra
entrara no teatro, persuade
a mágica atmosfera de vaidade
à qual o artista, em vida, em vão se agarra.

O punk, então, no palco vê que o Mário,
o Oswaldo e os outros foram o que, agora,
quer ele ser: rebelde e libertário...

Mas cada modernista que ali chora
a efêmera inscrição no calendário
lamenta não ser novo como outrora...

NOTA: Refere-se, o eu-lírico, à Mário de Andrade e Oswald de Andrade, nomes centrais do Movimento Modernista, eternizado na Semana de 1922.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O Proudhoniano Eça de Queirós - Francisco Trindade

O texto que coloco neste espaço foi retirado do blogue ANOVIS ANOPHELIS, de Francisco Trindade. Trata, o texto, do influxo das considerações estéticas de Proudhon na produção queirosiana. Retomo, desta forma, a questão literária, que tanto me agrada.
Silva M. O.

Publicado originalmente em: http://franciscotrindade.blogspot.com/2010/12/o-negro-e-o-vermelho_04.html


"Uma sociedade sobre estas falsas bases, não está na verdade: atacá-las é um dever."
Eça de Queirós, 1879.

O realismo aparece na mente de Eça de Queirós associado às ideias estéticas de Proudhon. Para ele, realismo é fundamentalmente Proudhon com uns pós de Taine. Nunca ninguém se lembrará de aproximar as ideias estéticas de Proudhon do realismo literário. Tão pouco se tinha visto ainda aproximar as teorias do meio, de Taine das teorias sociais do autor do Do Princípio de Arte.
Mas a conferência "A Nova Literatura " que Eça de Queirós apresenta no casino Lisbonense em 1871 subintitulada O Realismo como Nova Expressão da Arte não é somente uma exposição das ideias destes dois pensadores franceses. Antes de mais nada, foi uma crítica ao estado decadente das letras nacionais, embora sem descer a uma concretização positiva. Essa concretização fizera-a ele em As Farpas no seu estado social de Portugal em 1871, publicado precisamente dias antes da conferência.
Para Proudhon, o realismo ensinava simultaneamente ao artista a " exprimer les aspirations de l' époque actuelle " e a ter em conta que a arte é "une representation idéaliste de la nature et de nous-mêmes, en vue du perfectionnement physique et moral de notre espéce " (Do Princípio de Arte e do seu Destino Social) no que se opunha a Taine , que tinha por secundário o ideal moral. Para este, todos os temas eram dignos de ser pintados; para Proudhon, não . Associar, pois as doutrinas estéticas de Taine às de Proudhon era uma simbiose audaciosa que Eça de Queirós não receou levar a cabo .
Nas conclusões da sua conferência há afirmações expressas: Em primeiro lugar o Realismo deve ser perfeitamente do seu tempo, tomar a sua matéria na vida contemporânea. Em segundo lugar, o Realismo deve proceder pela sua experiência, pela fisiologia, ciência dos temperamentos e dos carácteres.
Mas principiemos pelo princípio. Proudhon, no Da Justiça na Revolução e na Igreja apresenta a Revolução como um vasto sistema filosófico em que se enquadra a sociologia, a política, a economia, a moral - e a própria literatura . No terceiro tomo dessa obra pode ver-se inclusivamente um estudo, o nono, em que o problema literário é focado ( cap. VII e VIII). Eça, literato, deve ter começado por aí. Nas Notas Contemporâneas pode ler-se o seguinte: " Sob a influência de Antero logo dois de nós, que andavamos a compôr uma ópera - bufa, contendo um novo sistema do Universo, abandonamos essa obra de escandoloso delírio - e começamos à noite a estudar Proudhon nos tomos da "Justiça na Revolução e na Igreja "...
Na verdade a sua conferência acusa pontos de contacto com essa obra. Há afirmações ácerca da revolução que são de lá . Aquela visão da literatura revolucionária, de Rabelais a Beaumarchais, é também de lá. Entretanto, Proudhon, que prometia aí um vasto estudo à parte sobre a literatura - vem a publicar, ou melhor, publicam-lhe os discípulos em obra póstuma - o D. Eça, encaminhado por aquela leitura, aconselhada por Antero (acerca da influência de Proudhon na obra de Antero de Quental ,ver o nosso artigo na Batalha, nº134,Out/Dez 91, pp.10-11, " O Socialismo Proudhoniano de Antero de Quental " ) procura agora o novo livro. E a conferência revela vastos pontos de contacto com ele .Este livro tinha saído em 1865 e era o primeiro duma série de póstumos.
Assentando todo em reflexões que a obra realista de Courbet lhe sugerira, Proudhon quisera em Do Princípio de Arte sujeitar a arte ao pensamento dum destino social . A arte, dali para o futuro deveria ser condição de melhoramento das sociedades, e o realismo a sua expressão . Em três capítulos iniciais assentara nisto. A arte que fugisse desse ideal era falsa. Querendo demonstrar que, afinal, o papel da arte, sempre tinha sido esse - desde o IV capítulo até ao X, fez um estudo interpretativo da evolução histórica da arte. Os oito capítulos seguintes são de análise à obra realista de Coubet. Nos restantes capítulos, do XIX ao XXV, dispendem-se argumentos e considerações que hão-de levar ao estabelecimento dum critério de criação artística em vista do seu destino social.
O Proudhonismo - incluindo o de Eça de Queirós - assenta em três noções fundamentais : a Consciência, a Justiça e a Igualdade. A Consciência e a Justiça são duas faces da mesma coisa. A Consciência é o sentimento que o sentimento que o homem tem de si, dos seus direitos e dos seus deveres . Mas esta noção Kantiana não basta a Proudhon, sociólogo: só lhe interessa o homem em grupo, e a equação de homem para homem. Ora cada homem, supõe Proudhon, sente como a sua própria, a dignidade e os direitos do seu semelhante; é a consciência objectivando-se - a que ele dá o nome de Justiça . A Justiça impõe o respeito recíproco e conduz inevitavelmente à igualdade, porque nos leva a exigir aos outros o mesmo que os outros exigem de nós e porque nos leva a respeitar os outros tanto como a nós mesmos, uma vez que a Consciência se tem de supor idêntica em cada um.
Por outro lado, desde que a Consciência é uma noção imediata, consubstancial à própria natureza humana, e a Justiça é a sua face social, tão inevitável como ela, é claro que a Igualdade se realizará fatalmente; e a Evolução não é que a sua realização progressiva. Por isso escrevia Oliveira Martins que a teoria do socialismo é a evolução. Nada impedirá que ela se ela se realize; mas essa realização será gradual e evolutiva. Por isso Proudhon não acredita em subversões perturbadoras, que, além do mais são uma violação do princípio da Justiça: "Revolução" é para ele sinónimo de Evolução no sentido de Igualdade; e propende a só considerar como sã uma sociedade desde que nela exista a par de uma inércia conservadora um impulso renovador evolutivo.
Em nome deste princípio da Justiça e desta lei da Igualdade critica Proudhon a organização social-económica da sua época, e nomeadamente a propriedade deveria ser tal que todos participassem nela, porque todos, em virtude da lei da Igualdade, têm o mesmo direito a ela. Isto não significa a supressão pura e simples da propriedade ou a sua colectivação, no pensar de Proudhon, mas antes a criação de um novo tipo de propriedade, que ele denomina "posséssion" que é no fundo, o usufruto do trabalho. À mesma crítica se presta a grande indústria, cujos meios de produção, segundo Proudhon, deviam estar nas mãos de companhias de trabalhadores.
Proudhon nega-se, portanto, a toda a organização estatista e à colectivização; e o seu ideal seria, concretamente, quanto à terra, a distribuição duma vasta colectividade de pequenos lavradores; quanto à produção industrial a transferência do capital e dos lucros para os próprios operários organizados. È a ideia base do cooperativismo.
Toda esta teoria a encontramos ao longo da obra de Eça de Queirós como membros dispersos, que, reunidos, permitem perceber o conjunto da construção.
A par dos objectivos da Revolução considera Eça o próprio processo da Revolução. E aqui a marca deixada por Proudhon aparece muito profunda - talvez por encontrar um eco em alguma coisa de pessoal e íntimo no escritor. Eça aceitou, compreendeu e glosou até ao fim da vida as duas noções fundamentais de Proudhon a este respeito: que a Revolução é uma evolução contínua e fatal - de modo algum um crise brusca; e que a Revolução se operará não já por uma transformação política mas por uma transformação puramente económica e técnica.

Francisco Trindade

sábado, 4 de dezembro de 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

El Libertario 61 - Dezembro/Janeiro 2011

Já está disponível o periódico venezuelano El Libertario referentes aos meses de Dezembro de 2010 e Janeiro de 2011. Ainda não li completamente, mas ainda assim, conhecendo a qualidade de suas páginas, recomendo a leitura.
Há, dentre os artigos, um pequeno e belo discurso do escritor espanhol Federico García Lorca a respeito da necessidade da cultura para o homem. Outro dia escrevo mais sobre García Lorca, um dos maiores nomes da poesia espanhola do século passado.

Para ler, baixar, clique aqui!